sábado, 30 de abril de 2011

o tamanho da frustração.

Os aguaceiros emergiram com sonolência na penumbra escuridão do vale. Violentos mas silenciosos, como uma facada forte nas costas, como a desilusão que nos apodrece o coração tantas vezes. As expectativas eram altas - uma chuva miudinha que cresceria firme pela alma adentro, uma semente risonha que floresceria a um ritmo musicalmente saboroso. Mas as maleitas eram mais rígidas do que se esperava, mais compactas do que se desejava, e por isso houve um mergulho de cabeça directo num lago profundo e desconhecido. Sem as ideias de que talvez haja uma solução, uma tábua sem falhas na madeira onde nos agarrarmos.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

easter easter

Agora que estou oficialmente de férias, vou para Tavira passar uns dias.
Boa Páscoa, meus queridos!

domingo, 17 de abril de 2011

after&before.

Lembraste daquela noite em que tentamos contar o máximo de estrelas no céu e nos perdemos, pois eram imensas e tão distantes? É assim que me sinto. Perdida, algures entre a terra e o céu. Porque tudo é muito, são inúmeras as preocupações, os medos, as saudades, as responsabilidades... E os segredos aqui acumulados. Tenho medo que um dia vertam sem eu dar conta e tu saibas de tudo aos turbilhões - como uma lufada de ar quente que sufoca a traqueia. Queria não ter medo de te dizer o que me atormenta, o que mais me faz falta neste momento. Porque tu não aceitarias, não acreditarias, não entenderias sequer. Não aceitarias que a nossa vida é feita do hoje, sim, mas quer queiramos que não, o ontem é a base. E sem base não há sustento. E a mim falta-me a minha. A mais preciosa, incoerente, diferente e louca... base. Falta-me matar saudades encravadas no meu peito à tanto tempo, falta-me, no fundo, abraçá-la com toda a força que o mundo me puser nos braços na altura e aí sim, trazer paz ao meu coração. (...)

little heart.

O coração cambaleou, sonolento e insípido, pelo passeio de pedras cinzas. Aspirava a melhores dias, com cobertura e recheio de chocolate, como os bombons que lhe adoçam a cor vermelha. Era madrugada, entre o frio matinal e a promessa de tempo ameno por aí adiante, olhava de esgueira a estrada. Eram inúmeras as almas velozes que o ultrapassavam, que não o viam, que nem sequer paravam para o cumprimentar. Perguntou-se, literalmente, quantas vezes nos esquecemos nós do coração?

sábado, 16 de abril de 2011

janela entreaberta.

O meu soluçar choroso foi apaziguado pelo aconchego do teu corpo quente, como uma chávena escaldante de café numa manhã de Outubro. Chegaste-te a mim, pé ante pé, como se lá bem no fundo ainda tivesses medo que eu te pudesse fugir. O conhecimento nunca é uma totalidade, é um processo que decorre ao longo de toda uma vida, e tu sabes melhor do que ninguém que nunca me conhecerás como a palma da tua mão. Apenas sabes fragrâncias minhas, como o que me faz rir, o nome do meu perfume, a cor da minha pele tostada pelo sol, o nome dos meus pais... Mas desconheces o quão eu já amei alguém antes de ti. O meu maior medo. A minha maior tristeza. O quanto já foi o meu coração magoado. Desconheces a verdade crua de mim, que se houvesse nem que fosse uma mínima oportunidade de voltar atrás no tempo, eu iria, e viveria de novo a felicidade e a tristeza por que passei. Porque são essas pequenas coisas que fazem de mim o que sou hoje. As saudades, as paixões, as melodias, as estações... E acredito plenamente nessa tua ingenuidade quanto a um futuro comigo. Tal como acredito que, independentemente de minha vontade, as rosas puderam continuar sem florir. E mesmo que caminhes pé ante pé até mim e me agarres com força, eu porventura poderei, mesmo assim, fugir de ti.

63.

mergulho interior.

As navegações interiores são feitas em alto mar. Embaladas pela ondulação, cheia de vitalidade e imparcialidade. Como uma pequena vida própria de temperatura amena, que apenas observa mas não surte opinião ou juízos de valor. Que apenas ilumina secretamente caminhos, como por engano planeado, dando uma ajuda mas nunca fazendo tudo por algo. Há que bater de chapa primeiro e depois sim aprender como movimentar o corpo de modo a penetrar esse oceano num maravilhoso e perfeito mergulho.

terça-feira, 12 de abril de 2011

a ventania.

Fugiste num cavalo-de-pau, vestida de princesa falsa, querendo mudar a tua vida. Abandonaste o mundo que até outrora era tudo aquilo que conhecias, que amavas, que admiravas e respiravas de um momento para o outro. Deixaste uma rua, um bairro, uma cidade, um país que apenas te queria bem para te salvaguardares nos braços inseguros do desconhecido em que o numero dois não existe. E eu apenas posso lamentar essas tuas escolhas que me abateram o peito, que me fizeram verter lágrimas, que me fizeram principalmente aprender que as pessoas são como o vento, nunca estão paradas num lugar e de um momento para o outro, sem nada o prever, voam para longe e nunca mais lhes conseguimos alcançar a mão para a agarrar com força. Como disse a Margarida no seu último livro «O mundo pode ser um lugar difícil, mas, se formos bons, a vida traz-nos as pessoas certas que nos podem proteger e cuidar de nós». E tu não cuidaste de nós como deverias, como nós precisávamos, como só tu sabias fazer...
Queria aproveitar este pequeno "tempo de antena" para deixar aqui um enormíssimo Obrigada a todos os que me lêem, que deixam comentários e sugestões, aos que partilham de certa forma momentos das suas vidas através das perguntas que me fazem, aos que dão valor à minha opinião, a todos os amantes das letras e do nosso português, no fundo, a toda a gente que me tem vindo acompanhar. É muito gratificante saber que contribuo nem que seja por segundos para o dia-a-dia de alguém ao identificar-se com o que aqui escrevo. Este blog, para mim, é mais que metade de mim. Tem uma importância extrema porque escrever é realmente das melhores coisas que tenho - porque mesmo que o meu mundo um dia desabe, a escrita depende só de mim e de um amor muito forte que nunca nos desilude. E aqui, mais que os dedos que batem sobre as teclas, é o que o coração balbuciona à mente e me faz projectar isso aqui. E por isso mesmo, por me fazerem continuar todos os dias a vir aqui deixar mais um pouco de mim, obrigada. Continuarei, sem dúvida, toda "olhos" para ver e saber tudo aquilo que quiserem deixar por cá.

Mafalda M.

sem ritmo.

É bateria quebrada este lamaçal interior. Esta devoção natural, crua e realista. Como uma brisa que provêm dos olhos fechados, dormentes das maleitas transversais ao seu infinito horizonte. Cheira a alimento traiçoeiro, um veneno voraz e silencioso. As gotículas de saliva espalhadas, num todo leito de saudade por um amor antigo, que não murcha nem quebra. É o amargurar da falta, da ausência, do desconfortável medo da verdade.

sábado, 9 de abril de 2011

terça-feira, 5 de abril de 2011

da autoria de Margarida Rebelo Pinto

«Se o amor é como um rio que nunca corre da mesma maneira, a amizade é um oceano imenso e profundo que nunca seca nem se cansa de existir (...)»

sexta-feira, 1 de abril de 2011

da vida.

O vazio abunda. Arrasta-se pelo areal, pela inexistência de vida humana real. É um abandono tal, como pó esquecido por debaixo do tapete carmim. O ritmo cardíaco balança-se de acordo com a sinfonia majestosa de uma valsa perdida no canto mais refundido da sala. Os laivos de arte estética sobressaem face às fragrâncias de emoções. Num enterro mediano, em dia chuvoso e repousante. É efémera a doença da mente, louca, débil, vanguardista. As incógnitas são penduradas num estendal, de janela a janela, por molas coloridas seguidas - como quem é obcecado pela irritante organização. Também o coração deveria sê-lo. Assim, organizado. Mas está antes deitado sobre o pó esquecido, por debaixo de um tapete carmim.