domingo, 27 de janeiro de 2013

um lugar vago.

A chuva caia exactamente com a mesma intensidade com que caíra no dia anterior. Audaz e segura, forte e persistente... Precisamente tudo aquilo que eu não era, nem conseguia ser por mais que fingisse. O ar cheirava a orquídeas, a passos vagos na praia e a memorias. Sentia o peso do teu corpo no sofá como se ainda a segundos lá estivesses estado e não à 2 anos como conta a verdade; a tua mão descontraidamente pousada na almofada e a cabeça recostada inclinada na minha direcção onde me espreitavas ocasionalmente pelo canto do olho, sempre com o teu medo de que eu me fosse embora - quando na verdade, e ironicamente, foste tu que partiste. E eu que nunca tive medo agora vivo apavorada, de coração preso à tua ultima imagem neste sofá junto a mim com o todo o teu calor e amor.
Tu foste tudo aquilo que alguma vez tive de bom em mim e por isso não te consigo odiar: foste demasiado bom durante muito tempo para um dia na nossa vida me fazer mudar todo o amor e admiração que tenho pelo ser humano que és. Não me importo se me deixaste de um momento para o outro, se chorei noites seguidas sozinha nesta casa tão grande, se me senti desprotegida em relação ao mundo. Tu foste o meu sonho e sei que eu fui o teu também. E por mais assustador que seja este presente sem ti, nada apaga um passado maravilhoso ao teu lado, pois eu amar-te-ia por mais dez, vinte ou cinquenta anos.