quarta-feira, 1 de outubro de 2008

tu morreste, e eu não.

Sentei-me, como sempre fiz, a frente do meu piano. Todos os dias, me sentava ali, a olhar para as suas teclas tão lindas, tão cuidadas. Mas tocar, não consegui voltar a fazê-lo. A ultima vez que toquei, foi quando tu ainda estavas comigo, ainda eras meu, ainda nos amávamos. A ultima vez que toquei, foi no dia que morres-te. Não fui ao teu funeral, queria que a ultima vez que te vi fosse a ultima que teria na memoria, no coração. O teu ultimo dia de vida, foi passado comigo, contigo a dar-me a mão e a sorrir para mim, meu amor. Não queria que no lugar desse sorriso, estivesse um rosto sereno, pálido e de olhos fechados. A minha ultima imagem de ti, teria de ser perfeita. Porque até ao teu ultimo momento, foste feliz e fizeste-me feliz! Enquanto todos se reuniam no cemitério sombrio, na frente da tua campa, que não sei nem quero imaginar como é. Estavam lá todos, e eu em casa só. Sentei-me a frente do meu piano e toquei. Toquei noite fora, a minha musica. Aquela que escreves-te para mim, aquela que só eu saberia tocar. A minha musica, escrita por ti. Possuidora de tudo aquilo que sentias por mim, a única coisa que acreditava na vida .. Era o teu amor por mim e o meu por ti. Toquei e chorei noite fora, a minha musica no meu piano, sem parar. E já lá vão anos. Não voltei a tocar no piano, ou sequer a ouvir a minha musica. Cheguei a pensar que a tinha esquecido... Sabia a melodia de cor, mas toca-la juraria que já não me recordaria. Hoje, agora, sentei-me a frente do meu piano, e a custo com as lágrimas a surgirem, pressionei uma tecla. O som, som que não voltei a ouvir durante tantos anos, esta de novo ali. Fechei os olhos, e deslizei devagarinho as duas mãos sobre as doces teclas do piano. Foi como te sentir de novo aqui... Tu encostado ao meu piano negro, de olhos fechados a sentir a musica. E eu a sorrir a toca-la só para nos. A sensação foi a mesma, a diferença, é que tu não estavas lá e eu não estava sorrir. Mas mesmo assim, deixei-me envolver pela magia do som e comecei a tocar a minha musica. Conforme pressionava cada tecla, os meus dedos automaticamente passavam de tecla pra tecla e soltavam a musica, recordava tudo mesmo 3 anos sem tocar .. Sabia tudo. E aí, voltei a chorar, como a noite do teu enterro. Toquei a minha musica sem parar noite a fora, sempre a chorar. A sentir a dor de não te voltar a ter, de não ter conseguido acreditar em mais nada na minha vida depois da tua morte, de não conseguir amar alguém tanto como te amei a ti, a verdadeira dor de saber que a tua partida deixou pó magico para que o resto da minha, seja apenas recheada com tristeza e magoa.
8.Dezembro.2007

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