domingo, 31 de março de 2013

casulo.

E quando se sente que talvez o melhor é desistir, o coração aperta como nunca antes. Engole-nos os suspiros, quebra-nos os ossos e fraquejamos perante a nuvem negra do óbvio. É uma imensidão sangrenta esta que me acompanha. Esta mesma que nos trespassa - uma mão sem futuro e um peito sem pulmões para gritar.
Não há amparos para este vazio que sinto hoje dentro de mim, esta dor insólita de solidão e luta pela necessidade de expressão. Se eu nunca mais for a mesma, amar-me-ás mesmo assim? O barco naufragado do meu passado já passou por estas ondas turbulentas, já levou muitas pancadas - já abandonou e já foi abandonado. Qual é a voz que nos faz ter aquela vontade de sair da sombra das flores e gritar? Mesmo sem pulmões, mesmo sozinha no mundo; que voz é essa que as pessoas têm em si que eu não tenho? Quem é que lhes lambe as feridas quando elas são interiores? 


Não ter emprego faz com que nos seja fácil trocar as voltas aos horários do sono, mas se o motivo for a escrita, então não me importo de nunca mais voltar a dormir.

sábado, 30 de março de 2013

paragem zero.

Escrever dói. E eu moro dentro de um balão. Numa bolha de ar cheia de picos, límpida e disforme como o teu coração. É nela onde me encolho, retorço e escondo os ouvidos das maleitas exteriores... Há um turbilhão de emoções que me embalam, que me adormecem desta dureza que é decidirmos a nossa vida; desta angustia que é ter de viver com as acções dos outros e não termos o total controlo do nosso destino. Daquilo que nos afoga, que nos consome sem piedade. Há dias em que morro ao acordar - e há dias em que nem sequer acordo. Não sinto o odor do oceano que já foste em mim, não sinto nada. Só esta pequena tempestade dentro do meu copo interno, como se um navio estivesse a partir e eu não fosse veloz o suficiente para o alcançar.