Já não havia sentimento ali. Já não havia uma ligação entre ambos sem ser as lembranças, as memorias de tempos gloriosos da sua união que o tempo levou. Ela perdera a graça de menina e ele só envelhecera mais, só os seus interiores eram iguais, ainda que até o coração desta já batesse forte por outro amor. Nada daquilo fazia sentido, o ter havido um reencontro. Para testar corações, para testar olhares que sempre se admiraram e se atraiam. Agora eram só uns olhos grandes castanhos e uns olhos azuis-céu. Num mesmo espaço, desesperados e incomodados por se aperceberem que já nem uma amizade existia ali. Ela decidiu ir então embora. Pegou-lhe rápida no cigarro que ele se preparava para acender e disse que tinha de ir (voltaria novamente ainda naquela vida?). Ele sorriu-lhe, agradecido de certa forma e nostálgico. «É a despedida?» «É sim...». E abraçaram-se largos minutos. Como um enterro de algo que já a muito que deixara de existir entre os dois. A paixão, a faisca, a aventura, a emoção e curiosidade espontânea, até a amizade pequena. Ele beijou-lhe mil vezes a bochecha magra e ela em resposta aconchegou-se mais no abraço silencioso. Por fim, afastou-se e sorriu-lhe, como um adeus mudo.
E foi embora, esquiva, no meio das luzes cintilantes mas escassas. Olhou por segundos para trás, já longe, e não sentiu saudades. Somente força interior, com mais certezas de que o caminho certo era continuar em frente, e não olhar mais para trás naquela direcção.
2 comentários:
de nada querida, foi um prazer (;
Ele pareceu reagir bem, mas pelo sim pelo não acho que não é má ideia olhar uma vez ou outra por cima dos ombros, sem ninguém notar, pelo menos nos primeiros tempos. Reencontro forte, esse, e feliz. :)
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