sexta-feira, 7 de maio de 2010

train.

O vento soprou baixinho, tanto que a minha respiração soava mais alto que a brisa das 6 horas da manhã. É fins de primavera e está frio de madrugada a ponto de eu apertar o casaco até ao ultimo botãozinho. O piso estava molhado, escorregava um pouco, tão pouco como o vento que mal soprava mas que mesmo assim não deixava de dar valor à sua presença. As minhas mãos tinham um cheiro estranho, cheiravam a tecidos, a filtros de enrolar, a humidade e a gel de banho. É uma estranha combinação, mas é-o, sem dúvida. Olhei de esgueira para o relógio mal tratado pendurado no telhado da estação de comboios. Faltavam 15 minutos para o meu comboio chegar e levar-me mais uma vez embora das minhas origens. Lembrei-me do que o meu avô me dizia em pequena: que aproveitasse bem a infância porque «quem vive são as crianças». Passaram-se 20 anos de vida, e ainda hoje não sei até que ponto o que ele dizia era errado e verdadeiro. Antigamente vinha para estes lados com ele, o pequeno parque infantil era mesmo atrás da estação e enquanto me empurrava o baloiço contávamos os comboios que passavam. Aprendi com ele a contar e a andar de baloiço. Talvez por isso o barulho dos comboios a que tantos incomoda a mim me reconforte. É como voltar a ouvi-lo. (...)

2 comentários:

Mara disse...

Estive a ler tudo o que tinha perdido de ti porque ando ausente aqui do blog e os teus textos fazem-me falta. Nem por sonhos deixava de os visitar :)

É uma escrita deliciosa e este post em particular deixou-me nostálgica e com um sorriso no rosto*

beijinho

N R disse...

È um barulho que te acaricia. :)
O teu avô era sábio, "quem vive são as crianças", e tu tens razão quando dizes que é ao mesmo tempo errado e verdadeiro. :P