sábado, 26 de junho de 2010

letters. XI

Querido mar,
não me castigues, ainda que bem o mereça. Nunca mais a minha trajétoria de vida voltou a ser salgada, abençoada pelas tuas águas envolventes. Mas hoje lembrei-me de ti, hoje lembrei-me todas as cartas que te escrevi. De todos os meus pedidos, conselhos, explicações, frustrações, alegrias e desamparos. De vez em quando navega em mim uma onda tua, cá dentro, junta ao coração e reaviva a memoria de este meu antigo amor. É curioso, o que algo que julguei tão forte em certa altura, agora me diz tão pouco. Não será assim o resto da vida? Ultimamente tenho pensado - não muito - mas ainda assim debatido sobre a ideia de contar a identidade deste amor que só tu, meu amado mar, soubes-te. Soa-me a segredo sem fundamento. Mas o medo de reacções malignas atormenta-me. Não foi uma relação legitima, não foi uma relação em que o mundo pôs os olhos. Só tu, eu e ele. Um pequeno segredo que ainda dura. E eu não sei se o cante aos búzios grandes, ou se o mantenha enterrado no teu areal.
em saudade e pequenas dúvidas,
Mafalda

2 comentários:

diana alba disse...

gostei, gostei, adorei (:
mais uma vez ^^

N R disse...

Acho que devias cantá-lo a um búzio grande, nem que o objetivo depois seja apenas o de manteres o búzio contigo, guardado para sempre num sítio só teu, ao qual possas chegar depois sempre que queiras voltar a ouvir o eco.