terça-feira, 14 de setembro de 2010

a saudade.


A saudade é uma frota inteira em naufrágio. Em mergulho silencioso e pavoroso no oceano profundo. Não é mais que a certeza de que o regresso pode nunca surgir no horizonte. Uma tempestade que descamba lentamente sobre os destroços dos navios, das madeiras, das cordas, das bóias com corpos fracos mal pendurados mas com uma esperança abominável a esquentar-lhes o sangue.
Eu nunca pensei que não voltaria para ti. Quando parti jurei-te uma chegada breve e saudosa, transbordante de todo o amor que ainda sentia tão imenso por ti. Que cairia de novo nos teus braços, que me embalaria novamente contigo na mesma cama, que passaríamos muitas mais horas perdidas no tempo a conversar. Sobre tudo e sobre nada, com todo o irresistível prazer que isso nos dava. Mas não aconteceu. Eu parti e voltei. E nem me apercebi que perdera o coração pelo caminho, que ao chegar, estava desprovida de sentimentos... O meu barco naufragara penosamente, tão sereno e calmo que nem me apercebera. Os ventos sábios sempre me disseram que a distância trás as saudades sofredoras e apaixonadas. E eu acreditei. Sorri-lhes. Carente e necessitada de que o nosso relacionamento subisse mais um degrau do convés do nosso enorme navio. Porém todas essas crenças regrediram nesse dia, quando me apercebi que a sabedoria dos ventos eram montanhas ás quais não via o cume. Eles foram invejosos e calculistas, e ao ver tamanha amor verdadeiro e genuíno que eu irradiava por ti, mo roubaram e nos deixaram só um ao outro, sem o que nos alimentasse. Então desculpa todo o tempo que demorei a decidir e aperceber-me das minhas fragilidades relativamente a ti.
És de facto muito difícil de abdicar, quanto mais de aceitar que te perderei para sempre.

2 comentários:

mary disse...

nem mais.
adorei, vou seguir-te*

Tá na laethanta saoire thart-Cruáil an tsaoil disse...

náufragios de náufragos saudosos
mergulhos silenciosos em cu mes
de montanha

ventos que são sábios

verdadeiros e genuínos que são radioactivos

e falhas na estrutura do eu

é ...nem por isso