Hoje sinto-me como Marie Antoinette no dia em que forçosamente abandonou Versalhes, no decorrer da pura revolução francesa. Olho-me ao espelho e vejo o rosto dela, chorando, a despedir-se do palácio que a acolheu e bem tratou. Onde se casou com um príncipe que desconhecia e amou o seu amante e único amor. Onde teve três lindas crianças, entre as quais a única menina, Maria Teresa - a única sobrevivente da maior revolta do povo em toda a História. Encontro-me nos seus lábios bem delineados, frágeis e trémulos quando se encontrou presa pelos aldeões e afastada do seu marido que mais tarde veio a saber decapitado. Visualizo o pavor de estar nas mãos de revoltos, de loucos geridos pela extrema pobreza e injustiças várias. E pensar ela que quando estes lhe pediram auxilio devido à falta de alimento, ela lhes foi arrogante e disse «se não têm pão, comam bolos!». Descubro-me no seu arrependimento preso nas maças do rosto e na testa muito tensa que dói. Encontro o desamparo e o frenesim interior de ver o seu último filho homem morrer, já que o outro também lhe havia morrido mas nos seus maternais braços ainda em Versalhes. Recordo nos olhos húmidos os gastos dispendiosos e desnecessários que tanto ela e a corte desvalorizaram: as aulas de piano, o típico vicio do jogo, até o palacete que o marido, rei de França, lhe oferecera pela vinda do primeiro filho ao mundo. Todos os sapatos e vestidos, jóias e doces - até o chá que lhe enviara o Imperador da China se arrependera de ter bebido ao invés de tê-lo dado ao seu povo. Ignorara-os, tanto ela como o marido, porque a ingenuidade também era muita para alguém tão novo mas com tanto poder. Chegara a França com apenas 14 anos, lembrava(-me), e aos 18 tornou-se a mais nova Rainha de França. Mas agora também eles lhe ignoravam as lamúrias e promessas desesperadas sem fundamento. Eles só queriam vingança. A vingança de uma rainha, que em todo um grandioso mandado, apenas foi rainha dela própria.
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1 comentário:
muito bonito e bem escrito
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