A verdade é que tenho saudades daquelas melodias. Das emoções que elas surtiam em mim, da época que simbolizaram, do afecto, da refundida carência. Recordam-me os meus primeiros passos pelas letras, pelas leituras, pelas escrituras. Esses temporais de mim como aprendiz linguística, de raça branca e coração negro. Eram o passaporte para o mundo das letras, dos significados, do mais difícil de pronunciar ao que não deveria jamais ser lido. E eu lia. Lia-os a todos porque eu era assim. Era fugaz, era dada a quem me quisesse levar, não por necessidade, mas porque acreditava realmente que era capaz de fazer os que me rodeavam feliz - tal como os que me tinham e os que me desejavam. As letras das músicas ajudavam. As traduções para o só meu português, a interpretação à senso comum, eram tudo indicações de nostalgia e ambiguidade. Escrevi muito, escrevi mesmo muito. Escrevi até o lápis ser tão pequeno que não o conseguia segurar nos dedos, e até as letras secarem nos meus lábios sonolentos. Escrevi até o meu coração parecer finalmente vazio, mas ele transbordava, e voltava a encher.
Preguei muito. Preguei ao mar, à terra, à esperança, ás ruas do destino e à luz ao fundo do túnel. Rezei. Porque rezar foi, em alturas, a minha ultima esperança, a minha última salvação. Verti lágrimas enquanto escrevi, preguei e rezei a um deus em que nem sequer acredito. Rezei para e por mim. Porque precisava de ter fé em mim própria e nas minhas palavras. Precisava do coração vazio, para o voltar a encher de novo. Como um ciclo interminável, por vezes saudável mas angustiante de tão salgado.
1 comentário:
nada mesmo, tudo o que penso ele já tem. os rapazes são tão complicados!
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