Talvez seja pela forma como me falas, com todo esse desdém, essa voz grossa repreensiva como se eu estivesse constantemente a errar. Talvez seja da forma como me bates sem nunca ter sentido a tua mão embater no meu corpo. Talvez seja pela tua ausência frequente, dia após dia, cada vez maior e justificas-la com assuntos que não me dizem respeito. Em tempos fui o teu maior tema de conversa com os amigos, no emprego. Era a nossa relação aberta, feliz, saudável. Foi o nosso casamento, a forma como choraste de felicidade quando disse que sim. Mas a vida é um minuto, e tu de um para outro apagaste a minha cara da tua memória. Apagaste a textura da minha pele, apagaste o sabor da minha língua, as palavras que te disse sempre que te foste abaixo por causa da vida vazia que levavas. Quando deixaste de me amar levas-te também contigo a minha auto-estima, a minha confiança, o amor-próprio. Levaste tudo dentro de um saco negro como um ladrão que entra pela janela durante a noite. Tu esqueceste-me e não me avisaste sequer - não me anunciaste que um dia mudarias a ponto de eu não reconhecer o homem com quem me casei.
quinta-feira, 19 de maio de 2011
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1 comentário:
texto impecável, está lindo :)
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