quarta-feira, 28 de setembro de 2011

circuito.

O teu coração bombeia para mim. Verte num ledo vagar, gota a gota, sobre o meu colo. Mas eu não vejo, não oiço, não sinto. Só te cheiro. Essa brisa transcendente que trazes todos os dias contigo. Que te caracteriza, que te identifica, que me faz amar-te. Não te oiço, porque à tempos que decidiste comer todas as palavras que havia entre nós. Foges-me num esgar de tempo, por uma distância mínima surpreendentemente difícil de alcançar. E não te vejo por isso. Estás tão longe mas tão perto que não tenho perícia suficiente para te avistar. Para focar esses olhos que já foram o baú do meu tesouro - o cofre dos meus mais profundos segredos. Não te sinto, porque no meu leito já só percorre frio e dúvida. Não te sinto nem aos raios quentes de sol, não te sinto mas desejo-o tal como Eneias desejou Vénus.

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