quarta-feira, 23 de novembro de 2011

ruga.

O relógio tilintou mais do que o normal hoje. Ele balançou de um lado para o outro, rápido e ágil, freneticamente quente. Esquentou a madeira que o envolve e define, derreteu o metal dos ponteiros. Coalhou a cor e manipulou o tempo. O tempo. Esse maldito inimigo da espécie. Tolo é aquele que o ama. Que o anseia, que o espera, sentado de olhos postos no nada. O tempo quebrou-me o amor. Tirou-me a avidez de viver porque, agora, sinto-me no final da recta. Estou só, quando em tempos me senti - ironicamente - cheia de gente. Com muitos afazeres - sem tempo. E agora sou só eu e este relógio que emigra comigo todos os dias. Que me lamenta as dores, a doença e a mágoa constante da perda. O tempo deu-me as maiores alegrias, mas também mas tirou de novo um dia. Levou-me o amor, a saúde, o trabalho, a ânsia de ser. Deixou-me aqui, assim, como se abandona um cão: com nó da garganta mas sem se olhar para trás.

Sem comentários: