segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Curta vida a tua.

Sobre as cinzas que restam do teu corpo, sentindo o cheiro da tua própria desgraça, recordo os tempos em que vivias. Tu, uma criatura já meio-morta, de olhos negros, onde o sentimento e emoção não eram possíveis de decifrar. Teus percursos de passos lentos mas pesados, sem destino previsto, sempre. Um ser mudo, jamais alguém te ouviu falar. Apenas murmúrios, quando ansiavas coragem para morrer. Tudo que entra-se na tua vida, tu detestavas. Afastavas todos os que tentaram fazer parte desse teu mundo cruel e malicioso. Dias em branco, quieto, onde apenas os teus insensíveis olhos detectavam os pormenores. Explodias desdém e revolta. os teus punhos sempre agressivamente fechados diziam-no. E era mais que isso, via em ti, um sacrifício inimaginável de esforço para te manteres assim. Conseguiste-o. Mas acabaste por morrer cedo, como para ti, sempre o calculas-te. Morres-te como vieste ao mundo, a chorar e sozinho.
20.Julho.2008

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