segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

mulher me tornei (?)

Procurei uma simples fuga á rotina. Era final de dia, um dia «normal» se assim poder banalizar os meus dias. Sentia-me exausta, estafada, suja. Curiosamente, e para minha sorte tinha a casa vazia. E assim era como pretendia que o meu interior se sentisse: vazio e limpo. Fechei janelas, estoures embora a luz que penetrava a casa - por aquela altura do dia - já nem fosse abundante. Tudo escureceu aos poucos. Via nada, pensava em nada, o odor igualmente a nada mas esse decidi interrompe-lo pelo odor sublime a alfazema e morango vindo das velas que espalhara no Hall, casa de banho e plo meu recanto - o meu quarto. Entrei na banheira de agua quente, bem quente. No meio daquela escuridão. O corpo nu ajustou-se á espuma pouca e por lá adormeceu, sentindo o alivio da camponesa que toda a vida trabalhara a lavrar as suas terras ao morrer. E por horas passadas igualmente adormecidas pelo silêncio da casa, de mim, lá me deixei ficar. O prazer porem deu ar de sua graça e começou a esfriar a agua, e eu saí. Enxaguei os cabelos ao toalhão e por sua sequência o corpo ainda morno da temperatura inicial da agua. Olhei de relance o roupão, seda indiana de um transparente em tons salmão, mas por lá o deixei ficar. E nua saí da divisão. Senti a mudança de temperatura ao encontrar-me no Hall «O inverno veio para ficar.» pensei enquanto a minha pele se arrepiava e os meus lábios salientes secavam. Dirigi-me ao quarto e o proporcionei a mim mesma o prazer de ouvir o concerto de Mozart em clarinete enquanto me vestia. Oh doce suave som, que revoluciona o meu corpo desde os dedos dos pés até as papilas gustativas da minha língua! Em movimentos lentos deixei a alma tomar conta do corpo e ao de leve balançar-me, meia volta e caí na cama. O pequeno sorriso foi inevitável. Os violinos soaram, e o meu rosto tornou-se tenso mas ao mesmo tempo descontraído. Percorri com as mãos, sem olhar, o meu corpo de alto abaixo. «Já não sou uma criança, avó» rebolei pela cama e deitei a cabeça na almofada molhando-a com as pontas do cabelo ainda húmidas «Sou uma mulher, com corpo de mulher.» num pulo levantei-me e olhei-me no espelho de pé perto da cómoda, prendi o cabelo num emarafanhado á pressa, para uma visão melhor de toda a área da cara «Uma mulher ainda com cara de menina... uma menina de sorriso fácil...», deixei-me escorregar para o chão, sendo o silencio traído pelo abafado som de um sentar desajeitado «...e de lágrimas fáceis também.»

2 comentários:

maria miguel disse...

não tenho palavras para descrever o que li, desculpa.
a sério, está magnífico.

um grande beijinho *

Unknown disse...

Um dia a gente descobre que cresceu , e depois quer voltar a ser criança...
nunca estamos bem , Apre!!!!