quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

_ _ _ _ _

"Será este o último dia das nossas vidas? - pergunto-te. Nunca me imaginei a mim, perante a necessidade de escrever algo com a finalidade que isto tem. Porque as palavras nunca são suficientes, elas contigo têm sempre duplo significado, elas contigo querem dizer coisas diferentes e opostas. São lidas duas, três, quatro vezes, porque as entrelinhas são mais esclarecedoras e dão(-te) as ideias que no fundo, queres ter na mão. É difícil falar, olhar para ti e dizer o que me embate cá dentro... por isso, mesmo que seja através das palavras que tanto interpretas de mil e uma formas, escuta-me.
Tu para mim sempre foste mais que um ser humano, que um amigo, e com o tempo que um namorado. Eras um mestre, o meu professor. Eras a fonte que me deu a água esclarecedora e educativa da vida. Entras-te devagarinho, com as ideias fortes e a compreensão inesgotável (e verdadeira). Ensinaste-me muito. Fazias tudo em prol do meu bem-estar físico e psicológico, mas não foi por isso que me protegeste. Ao contrário do «habitual» tu colocaste-me e lançaste-me contra os meus próprios medos e problemas. Disseste que eles têm de ser encarados de frente, e que a tua posição de jogo seria do meu lado (sempre!) mas nunca há minha frente. Que não amparavas pessoas que cometiam erros óbvios, e que sabias que eu era o especial e inteligente o suficiente para saber de cor quais eram esses erros. Tu nunca me julgaste, e isso foi mais uma das lições que fizeram parte do caderno diário da nossa relação. Não julgar as pessoas pelas as suas acções, porque boas ou más, todas tiveram um motivo forte. e esse deve ser compreendido e não chicoteado. Mostraste-me a essência da irreverência na personalidade e eu deixei-me formar e enfeitar pelo teu melhor. "Duas personalidade completamente opostas. Os defeitos de um são as virtudes do outro" disseste-me. Foste o meu professor, o meu exemplo a seguir, desde que te conheci. Pegaste em mim como um menino abandonado na rua, vestiste-me a ajuda e alimentaste-me com amor e fascínio. Contigo eu cresci, contigo me tornei (ainda mais) mulher. Mas o nosso chão abriu uma fenda negra, e tudo se inclinou para o abismo. O aprendiz depara-se agora tantas vezes com o seu ídolo sentado na berma do abismo, de cabeça baixa, e arranhado pelas mais dolorosas das lágrimas. E eu caí contigo. Senti-me desamparada, porque ao longo da passagem de tempo tu colocaste ainda mais na beirinha do precipício. Mudaste de ideias, de teorias, cancelas-te a esperança e modificas-te sonhos, transformando tudo numa apenas só fome: a morte. E a causa... a causa foi eu ter desistido. Eu nunca desisti de ti, apenas de nós e de mim mesma nela. Comecei a perceber em como estava tão dependente do teu apoio e dos teus esclarecimentos de dúvidas. Não, não foste apenas um exemplo. Vi em ti também muito mais do que isso! vi amor, amor crescido. Eu compreendo que estejas cansado. Embora tu não acredites, eu sei como te sentes. Pode não ser totalmente, mas sei grande parte dessa dor devoradora de força. Não foi uma escolha o nosso fim, eu juro-te por tudo que não foi exactamente uma escolha. Muito menos, fácil.
Mas, a verdade, é que nada disto já te segura aqui. Estás certo, e tens-me avisado e "preparado" de que realmente a qualquer altura podes desaparecer. E eu ficarei sozinha, porque ser humano algum preenchera o vazio que vais provocar, a falta que me farás (...) Já to pedi tantas vezes, já tenho travado tantas decisões tuas. Mas eu sinto que esta é diferente, porque não consigo nem tenho importância ou garra suficiente para te parar. Sublinho apenas o que te disse ontem... se já não sou eu quem tem capacidade de te agarrar pelo braço e impedir que faças a asneira que queres. Então, pensa nos teus amigos. No teu irmão, (...). Pensa no choque... na mudança negativa e pessimista que será a tua morte na vida deles. Percebe, que a tua partida nada de bom trará a nós. Nem a mim... não preciso que morras para reconhecer que ainda sinto o profundo por ti (...) Fica... como me prometes-te um dia ficar.

tua Mafalda"

20 de Fevereiro. tudo melhora um dia, as coisas más são somente as pedras da calçada que estão fora do sitio, sitio esse que é a felicidade.

6 comentários:

C disse...

"Mostraste-me a essência da irreverência na personalidade e eu deixei-me formar e enfeitar pelo teu melhor." gostei muito.
beijinhos*

U disse...

Areepiei-me! Está.. puro. *

U disse...

Arrepiei-me*

Anónimo disse...

"Fica... como me prometes-te um dia ficar."

Está espectacular, totalmente sincero.

maria miguel disse...

neste texto reparo que escreveste com o fundo do coração, de algo mais íntimo.
e para não variar, está lindo!
beijinho

Joana M. disse...

"Eras um mestre, o meu professor. Eras a fonte que me deu a água esclarecedora e educativa da vida."

não me sinto no direito de mandar opiniões num texto tão teu, tão íntimo, tão majestosamente sentido e elegantemente construido.
a felicidade, esse sitio, (que deve ser) teu.