sexta-feira, 3 de julho de 2009

letters. V

Querido mar,
é a primeira vez que te escrevo de seguida, sem aguardar a tua maresia entrar-me pela janela do quarto, pela manhã que tornas fresca. Mas, agora acho-me ridícula. Pelo simples facto de te ter pedido auxilio. Lutarmos contra amor? Não é no mínimo ridículo? Julguei ser no teu cobertor azul esverdeado o meu sucesso. O local ideal para deixar o meu pequeno barco navegar á deriva, e pescar quem me contemplasse. Não escolhi. Estas coisas não se escolhem. Vi-o nadar e aos seus olhares de esgueira, as palavras e melodias que lançava a cada salto temporário para dentro do meu barquinho. Quis eu muda-lo... Quis eu que tu, meu amado mar, me ajudasses a puxa-lo para bordo e fazê-lo mudar a ponto de perder o instinto selvagem de regressar sempre á agua. Á sua liberdade. Sou só um corpo de alma com restos de sonhos, ele uma lei da natureza. Á maneira dele, sempre esteve apaixonado. Fui eu só mais uma. Mais um crime. De livre vontade a minha. Ele tem as suas próprias regras, ou talvez ausência delas. É viver, "deixar fluir" como me dizia. Quantas foram as vezes que estive para mergulhar em ti? Me deixar ficar inerte no teu interior, com ele, sem fôlego mas cheia de carinho a sangrar dos lábios. Ele iludiu tanto... Ele desejou-me tanto. Como poderia eu voltar ao porto, se com ele me sentia como peixe na agua (?).
agora somente tua e de mais ninguém,
Mafalda
"- gosto tanto tanto tanto de ti, meu Deus!"

3 comentários:

AF disse...

mar*

Inês disse...

Lindo *

N R disse...

"Lutarmos contra amor? Não é no mínimo ridículo?" - talvez seja ridículo, mas para mim também me é natural.