terça-feira, 28 de julho de 2009

letters. VI

Querido Mar,
é curioso em como com o tempo comecei a conseguir a ver a beleza do meu inimigo. Os meus primeiros olhares a tal ser-humano eram desdenhosos, lotados de vontade de matar e perguntava-me o que é que aquele alguém tinha que eu não tinha. Nunca a conheci. Não faço a mínima ideia de como ela é interiormente. Porque também não precisava. O que disputava com ela era estético. Tinha-mos sido abençoadas por amor a uma criatura viril que apenas se apaixona pelo que a sua boca, os olhos e o órgão sexual conseguem consumir. É rude falar assim. Mas, não é mentira. Ele próprio mo confessava. Ao meu inimigo não. Coitada. Ainda vive enganada. De olhos tão fechados como o céu negro das noites de tempestade no mar. O mar. Tu. O nosso amigo mar. A força que me davas para nunca desistir. Duas oportunidades. Dei-lhe duas oportunidades. E sei tão bem como dois e dois serem quatro em como ele me pedirá uma terceira, uma quarta e uma quinta. Mas por agora o inimigo e a insatisfação dele venceram. É confuso. O que sentia não era amor. Era paixão, loucura, fascíneo. Ninguém sabe o quanto eu o achava deslumbrante. Não o é assim tanto - diziam-me. Mas eu sempre tive gostos esquisitos. Mas nada disso importa. A química tempestuosa que sentíamos um pelo outro perdeu contra o amor que admito ser grande do inimigo e aquela sede dele de mais. Fui substituida, portanto. Por algo menos belo que eu e o inimigo, mas mais prazeroso. Dá-te suor e gemidos ao ouvido. E é disso que tu gostas. Espero que um dia mudes. Que te tornes homem de uma mulher só. Porque, verdade seja dita, mulheres que aceitam o que eu aceitei para ficar contigo não há assim tantas por aí. A quantas já mentis-te? Quantas vezes já trais-te e magoas-te quem não o merecia, apenas por algum tempo de diversão? Todos os dias, todas as semanas, meses e anos. E és tão pouco cuidadoso. Estávamos juntos em todo o lado, e tu despreocupado. Como se não fossemos ambos caras conhecidas destas bandas por onde nos movemos. Nunca te perceberei. Muito menos como é possível que essa tua maneira de ser me atraia tanto. O quanto me excitava o perigo de escândalo, da bomba rebentar e haver uma maré de nomes feios disparados, lágrimas e justificações a tanta mentira. És o maior criminoso que conheci na vida. E eu, foi de sorriso na cara e coração a palpitar, que ajudei e escutei todos os mais cruéis dos crimes. Os que perfuram sentimentos fortes. Os tais que difícilmente chegará o dia em que serás capaz de saber o que é. E sabes, ainda não fiz o meu luto pela seu abandono. Ainda não chorei a dor que sinto. Passava tanto tempo sem ele, a só receber amor quando o telemóvel tocava e me pedia desesperadamente que fosse ter com ele. Que agora não sinta a ausência. Foi sempre uma paixão ausente. Mas não me orgulho do que fiz, mas não me arrependo. Cresci com tudo isto e embora tudo, tu meu mar, e ele meu antigo amor, estiveram comigo numa das piores fases da minha vida. Não tenho vergonha de dizer ao mundo quem fui enquanto estive com ele. Porque no meu coração não havia maldade, apenas paixão quente. Fui contra as regras do certo e errado. Fui corajosa para alguns e alguém sem descaramento para outros. Embora o amor não seja justificação para nada, a verdade é que por vezes erramos por sermos levados pela música dele e pela esperança miúda de que pode mudar, para melhor.
saudosa,
Mafalda
"- tenho saudades tuas
- eu também. quando é que queres?"

5 comentários:

Anónimo disse...

Para mim, um dos melhores.
Respondo assim que poder, estou sem net.

Beijinhos, espero que esteja tudo bem.
Diana

MafaldaMacedo disse...

Oh obrigada Diana,
entao depois quando puderes lê o mail, tenho novidades.
Beijo

N R disse...

Um grande texto. A tua sinceridade é algo incrível. Deitas tudo cá para fora, ao mesmo tempo que consegues manter uma certa distância e transformar essas palavras em algo incrível, não um desabafo ao desbarato e só porque te apetece. Consegues ir ao fundo e voltar.

Mara disse...

Mafalda, assustei-me.
Comecei a ler o texto e disse logo de mim para mim. "todo este parágrafo revela a minha história". Mas não ficou por ai, e comecei a ler e a ler e a cada linha, os meus olhos abriam muito de espanto. Esta é a minha história. Simplesmente não consigo destacar nenhuma parte porque nunca me tinha acontecido isto. Foi como se alguém tivesse realmente olhado para dentro de mim, relatando o que lá viu. Senti-me compreendida.

débora miriam disse...

realmente , encontram-se pessoas fantásticas , que escrevem MESMO bem , por aqui ...

estou toda a tremer, de lágrima no olho :$

Vou por o teu link no meu blogue , espero que nao te importes :x

Débora Miriam .