terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

good night.

Ela fez-lhe beicinho. Ele franziu a sobrancelha com um pequeno sorriso «tenho mesmo que acabar isto, gatinha, desculpa.», deu meia volta e sentou-se abruptamente na cadeira vermelha da secretária. Ela estava descalça, por isso andava em pontinhas-dos-pés pelo quarto por causa do frio. «porque é que não te calças?», «pintei as unhas.» e sorriu, um sorriso largo, como se tivesse sido a primeira vez que as pintava. Aproximou-se da secretária, e num pulo sentou-se mesmo ao lado do teclado do computador. A camisa era curta, pouco das pernas lhe cobria. Olhou para o ecrã, só via letras e muitos números. Torceu o nariz. «que seca...» - pensou. Depois olhou-o fixamente, e por momentos teve a impressão de que ele nem tivera notado que ela ali estava. Tinha o noivo perdido na luz forte do monitor, sussurrando baixinho aquilo que lia. Fez-lhe uma careta. Ele nada. Inspirou, expirou, mordeu o próprio lábio. Deu-lhe uma palmadita na testa. Ele saltou com o susto, levou as mãos ao peito e olhou-a de olhos muito abertos sem dizer nada. «vou p'ra cama, não te demores.» sorriu-lhe, como sempre, mordeu-lhe o lábio. Elevou e esticou a perna, apoiando-a no ombro dele e observou atentamente os pés. Já estava seco o verniz. Noutro pulo saiu da secretaria e correu p'ra cama. O quarto era grande, a cama de ambos espaçosa, atirou-se como uma criança e enfiou-se dentro dos lençóis. Riu-se para dentro. Tinha um bom campo de visão dali, via todo o quarto, via-o a ele. A única luz era a do computador. Fazia-lhe doer a cabeça se olhasse muito tempo. Mas também não era isso que lhe interessava. Era o ser silencioso que se encontrava a frente dele. Só se ouviam as teclas, muito rápido, umas a seguir as outras. tec-tec-tec-tec. Ela bocejou, estava exausta, mas custava-lhe dormir sem ele do seu lado. Agarrou na almofada e afundou a cara nela, procurava o cheiro a homem. Cheirava. Os olhos dela brilharam, e baixinho rosnou. De amor. Olhou para ele. Tão atento no trabalho, a mexer no cabelo, despenteando-o, a olhar de esgueira para os óculos ao pé das colunas. Odiava usa-los. Ela achava sexy. As vezes colocava-os, vestia uma camisola dele, e andava atrás dele pela casa, a gozar, a brincar com ele. Ele ria-se a bom rir, outras vezes fingia-se de desinteressado. Mas no fundo adorava. Adorava aquela mulher. Amava a mulher com quem ia casar. Por momentos, virou-se de costas para ele e encolheu-se. Esticou as pernas o máximo que conseguiu e rebolou de um lado para o outro na cama. Involuntariamente soltou uma gargalhada. «alguém que se divirta, hein.» disse-lhe ele, em tom de gozo, provocando-a. Ela virou a cabeça muito rápido e deitou-lhe a língua de fora. Ele ripostou de igual forma e voltou a centrar-se no trabalho. Era difícil. Era difícil trabalhar com algo tão melhor e chamativo à nossa espera. Mas ao fim de cinco minutos focou-se somente naquilo que tudo o resto deixou de existir. Ela sentiu isso. Conhecia-o bem demais. Quando estava só com ele próprio os olhos perdiam um pouco do brilho e resmungava mais. Detestava errar, enganar-se. Aos poucos os pálpebras dela foram descaindo, a visão ficou turva, o sono chegara e ela ainda estava sem o calor dele a seu lado. Adormeceu por fim. Cinco minutos depois ele desligara o computador. Tirou a t-shirt e encaixou-a no seu peito.

8 comentários:

N R disse...

A história está excelente, tão linda. E retrata tão bem a necessidade de não só se saber que se amado, como a necessidade de ser necessário provas desse sentimento, sentir o calor humano.

Pelo espírito do texto pareces-me melhor, muita beleza e pormenor nele. Espero que estejas. :)

Violet disse...

Está lindo, adorei.

Unknown disse...

ohn esta lindo, LINDO mesmo :) *

Margarida disse...

eu gosto de pintar as unhas, se for como ela as pinta.

vânia disse...

lindo, lindo, lindo! Foi o melhor texto que li em teeeeempos... Oh, adorei mesmo... vou ler só mais um vez! :,)

U disse...

deu-me um friozinho na barriga.
espectacular! *

N R disse...

Se hoje já não te chegar a ver, desejo-te já os Parabéns. E espero verdadeiramente que tenha sido um feliz dia. :)

Agora estás menos miúda ao pé de mim. :P

Mara disse...

Maravilhoso.
Tu encantas-me*

E já agora, parabéns ;)