Há dias em que as palavras esvoaçam pelo infinito dos céus e é muito difícil captura-las. Tê-las de novo no nosso leito, no lar, na maternidade da sua bela existência. É difícil prendê-las numa gaiola - como pequenas aves - para que, quando necessárias, as tivéssemos à disposição. Mas se há porventura aves ás quais elas são idênticas, são-no ás aves-migratórias. Elas morrem se ficarem enjauladas à espera de funcionalidade. Precisam muito da sua própria liberdade de expressão. É louco, não? Pensar nas palavras como pássaros capazes de se alentarem a eles mesmos. Mas é assim que as vejo. Insatisfeitas, sempre necessitadas do perfeccionismo. Dos louros quando bem elaboradas. Das penalizações quando o erro é superior à intenção. É uma metamorfose particular. Única e muito bonita. A formação pormenorizada das sílabas, a construção da palavra e a conjugação frásica. Não é mais do que uma dança. Uma valsa, um enlaçar de experiências e significados. Um acasalamento puro, sem maldade, sem promiscuidade, apenas simplicidade. Cada acento que as acentua ou minimiza, cada pontuação que lhes dá continuação ou as termina. É tudo uma melodia. Ou talvez, muito mais que uma melodia. Uma digna constatação de um facto duvidoso e sujeito a alterações. Das mais doces com chuviscos leitosos, ás mais amargas com tempestades esbatidas.
terça-feira, 12 de outubro de 2010
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