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Os olhos dele semi-serraram, era difícil concentrar-se, era difícil falar quando se tem algo tão belo para observar. Não a via faz tempo. Estava um pouco diferente, ainda que com os traços que sempre conheceu. Antes conhecia-lhe cada linha que desenhava o seu rosto tão feminino - adorava a sua estrutura óssea, e agora surpreendentemente, passado tanto tempo, ainda gostava mais. O cabelo pareceu-lhe um pouco mais escuro, mais longo, e menos ondulado. Era quase liso, e isso foi-lhe uma pontada no peito. Parecia tão adulta. E o problema é que já o era. Não pudera ver os seus últimos anos de adolescente. Era agora uma jovem adulta, mais bonita, mais confiante, mas mais desconhecida para si. E só deus sabia quantas noites isso o atormentou o sono. O tempo parecia parar quando a olhava nos olhos, ainda que doesse muito - eram tão seus, e em tempos gritavam o seu nome e todo um conjunto de palavras bonitas. Tinham a cor da madeira molhada, do tronco do pinheiro de Natal. Eram quentes e envolventes, tal como ela, quando se conheceram.
Ela mordiscou o lábio rosado e decidiu dar um passo em frente pegando-lhe numa mão. Afagou-a com todo o cuidado do mundo, sentiu-lhe a textura da pele, apertou-a com força e levou-a ao seu rosto. Fechou os olhos e chorou. Chorou pela saudade, pelo cheiro que era o mesmo, pela textura mais rígida de mãos de homem, pela ausência de todo este tempo, pela falta inconfundível que lhe fez ao coração. Chorou e fê-lo a ele chorar também.
Abraçaram-se por fim como um só corpo e, por segundos, foi como se o tempo nunca tivesse passado por eles. (...)
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