O teu coração bombeia para mim. Verte num ledo vagar, gota a gota, sobre o meu colo. Mas eu não vejo, não oiço, não sinto. Só te cheiro. Essa brisa transcendente que trazes todos os dias contigo. Que te caracteriza, que te identifica, que me faz amar-te. Não te oiço, porque à tempos que decidiste comer todas as palavras que havia entre nós. Foges-me num esgar de tempo, por uma distância mínima surpreendentemente difícil de alcançar. E não te vejo por isso. Estás tão longe mas tão perto que não tenho perícia suficiente para te avistar. Para focar esses olhos que já foram o baú do meu tesouro - o cofre dos meus mais profundos segredos. Não te sinto, porque no meu leito já só percorre frio e dúvida. Não te sinto nem aos raios quentes de sol, não te sinto mas desejo-o tal como Eneias desejou Vénus.
quarta-feira, 28 de setembro de 2011
relógio com tempo.
O relógio badala as horas porque sim. Porque o tempo é o maior e único inimigo do ser humano. O único que ele não consegue vencer, derrotar, travar. Nem ele nem toda a bagagem pesada que trás consigo. E eu não uso relógios - não sei se por medo da imprevisibilidade que este tal tempo trás consigo ou, se pelo contrario, pelo medo dele passar por mim e não trazer rigorosamente nada. E o ambiguo de tudo isto é que dizemos sempre que o 'relógio dá horas', quando ele na verde só as tira de nós, sem dó nem sensibilidade ao perdão.
quinta-feira, 22 de setembro de 2011
quinta-feira, 15 de setembro de 2011
parou.
És tão frio - e essa calamidade assusta-me. A tua falta de tacto para certas coisas, certas preocupações, certas histórias e, por consequência, certas mágoas. Confundes-me, colocas-me numa ilha isolada de pensamentos atribulados. Às vezes não sei se dizes as coisas por dizer, ou se as sentes realmente e trazes escondida em ti toda essa maldade. No bolso das calças, que parece sempre tão cheio - talvez seja disso. Disso e de tudo. Talvez seja isso que me cegue, perfurando-me.
quarta-feira, 14 de setembro de 2011
everything.
Alecrim solidário. De cheiros mil e gritos trinta. Olhares cruzados pelos ares históricos. Em que pedaço de céu voou o primeiro avião? E quem o guardou num frasco? Às primeiras gotas de agua onde os navios dos descobrimentos flutuaram. Quem as tem? Emolduramento das primeiras folhas da primeira árvore do mundo que caíram. Dissecação do primeiro e último ser vivo a falecer no planeta. Crescimento mórbido dos desejos, fuga da simplicidade. Admiração pela honestidade, esses trilhos percorridos com turbulências. Faíscas dos maiores e piores raios sobre a primeira pele humana que não apodrece.
O amor, tal como a vida, é uma fórmula que infelizmente não está disponível a todos.
morte escolhida.
Se o cachecol te aconchegasse verdadeiramente a garganta, não morrerias enforcado. Estarias antes quente, aconchegado, embalado num sono perpétuamente doce. De cheiro a alfazemas, a mel e cerejas congeladas e não a toda essa podridão. Terias os olhos num brilhante azul esverdeado devido à magia e à auto-satisfação e não esbranquiçados. Terias sido mais homem. Mais corajoso senão tivesses morrido. Mas pelos vistos não o eras, ou talvez, nem o nunca tenhas sido.
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