quarta-feira, 16 de maio de 2012

Espaço em branco. II

Acho que a pior parte da perda são daqueles que a sentem. São "os que cá ficam" que se vêem forçados aprender a viver com um espaço em branco dentro de si. São esses que vivem com as lágrimas, as saudades e as memórias. E viver com pessoas saudosas é tão doloroso que não há palavras no mundo que o descrevam. O que é ver nos olhos da nossa família a sua saudade, a sua dor, o seu amor a transbordar por aquela pessoa que não existe mais. E nós com vontade de dar a vida para que aquele tormento acabe. Porque se há coisa que custa é viver com o para sempre. Porque o sempre pode ser até daqui a 5 minutos, como pode ser daqui a 50 anos. E é essa imprevisibilidade que me corta a alma. Que me corrói o coração sempre que penso e sinto toda esta falta, esta angustia pelos que sentem ainda mais a falta do que eu.

Eu dava anos de vida por ti. Voltava atrás no tempo, tudo para que te pudesses ter despedido e vivido mais mil aventuras para além daquelas que tu me contas. Eu dava a vida para que tu tivesses muitos e muitos mais anos pela frente. Para que não percebesse na tua voz e nos teus olhos azuis a saudade que sentes dele. Que não sentisses a necessidade de me transmitir o quão orgulhosa eu devo de estar por ter tido alguém como ele na minha vida, por mais pouco tempo que tenha sido. Eu dava anos e saúde por ti. Todos. Para que não houvesse essa magoa escondida na tua voz sempre que lhe dizes o nome. E principalmente dava-te os meus anos de vida, para que nunca tenha um dia de te perder a ti também.

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