domingo, 22 de julho de 2012

O filme, que foi um livro.

Há mais de uma ano atrás quando me pediste para ver o filme "Dear John" porque era em parte um reflexo nosso, eu senti-me completamente dividida. Por um lado fugi desse teu conselho porque senti que, de alguma forma, me iria magoar a um nível pessoal e eu não precisava de sofrer mais; mas por outro lado achei-me superior a esse tipo de sentimentos - de me emocionar ao meter na pele de alguém de um simples filme. Então escolhi não o ver. Com o passar do tempo, quando comecei a ler muitos dos livros do Nicholas Sparks descobri que o Dear John, mais que um filme, foi primeiramente um livro. E eu, mulher das letras e das palavras, achei que aí já merecia toda a minha consideração. E agora vejo que fui arrogante. A verdade é que, passado todo este tempo, ontem comprei o livro, e hoje acabei de o ler. E só te posso dizer que o odiei... Porque não acabou como eu queria, porque chorei como choro em tantos livros que leio, mas desta vez chorei com uma mágoa muito mais interna que o costume. Detestei o final porque não acabou como eu queria, e isso só por si tem muito que se lhe diga. Porque para mim não houve um final feliz, e isso é tão irónico que nem tenho palavras. Exagerando um bocadinho nas palavras: é um pouco como se não gostasse da minha vida, e do meu futuro.
Ainda que me pudesse ter posto na pele do personagem que me competia, o meu coração não a escolheu a ela. Chamei-lhe nomes, desejei quase que ele se fosse embora, que "ele" a deixasse porque ela não o merecia. Não quero dizer que me vi um pouco ao espelho, porque isso seria demasiado, pois as coisas na realidade não são bem como nos livros. Mas senti que me podia odiar a mim própria novamente, como já me odiei tanto a muitos anos atrás quando tudo se fechou entre nós. Pude provar mais uma vez aquilo que talvez tenhas sentido, e doeu como antes. Ainda não sei dizer se estou arrependida ou não de ter lido o livro... Não deixo mesmo assim de sentir que floresceu em mim de novo aquela admiração que tinha por ti e pelo teu lado mais intelectual e psicológico. E de admitir que só tu, neste mundo inteiro, me aconselharias a ler a história de um livro como forma de compreender as coisas. Senti, mesmo passado todo este tempo, que me conhecias melhor que ninguém. E que embora agora as coisas sejam como são, se um dia voltássemos a ter uma relação - mesmo que de amizade - eu não tenho a mínima dúvida de que voltaríamos a ser o espelho um do outro. Seres tu o meu livro de instruções como eu sempre disse.
Independentemente do que sofri quando acabei de ler o livro, e de ter chorado e sentido estas emoções todas de novo, tenho de te agradecer porque chorar assim tem tanto de doce como de amargo - e lá no fundo, só eu sei o quão isso me faz sentir viva.

5 comentários:

N R disse...

Como se, confrontados com os nossos mais fundos sentimentos, mesmo que revivendo-os, tivéssemos noção de que uma parte de nós, afinal, ainda continua viva e capaz de nos fazer ser e sentir algo de muito diferente e transformador?

Z. disse...

que texto tao bonito *.* tão cru! :)) xx

MafaldaMacedo disse...

Obrigada Zé :)

MafaldaMacedo disse...

É isso mesmo Nuno *

Cláudia S. Reis disse...

Quando li esse livro também chorei. E, tal como tu, revi-me na história. Sabes, os livros têm esse grande poder sobre nós: levar-nos para dentro deles e fazer-nos ver como somos realmente. Sou uma ávida leitora e tenho-me descoberto por entre palavras. Acho que só assim me tenho tornado uma pessoa melhor para quem realmente merece. E, graças a esse livro, viste-te de uma forma única, crua. Essa pessoa que te aconselhou o livro irá ser sempre a que melhor te compreende. E é isso que deves guardar na memória. Também as memórias deverão fazer-te sentir viva!

Adorei o teu blogue, escreves de uma forma profunda :)