Eu sabia que aquela noite teria de ser diferente de alguma forma. Não por escolha, mas por senti-lo debaixo da pele. Não era um acaso as músicas mais pesadas que ouvia não surtirem efeito nos olhos chorões, que as conversas com alguém se tenham alastrado até ontem, e de tal intensidade, e me feito pensar. E foram tais parágrafos que levaram a esta sensação... de que há alturas em que tem de se saber interiorizar os erros, e pedir desculpa. Ter noção de quantas, e quando magoamos quem mais gostamos. E foi o que fiz... de coração a saltar-me pela boca agarrei no telemóvel, lá para as duas da manha, e liguei a certa e indeterminada pessoa. Escutei um sim do outro lado, ensonado e curioso de uma chamada aquelas horas da madrugada. Fez-se silêncio, mas saiu-me por fim «desculpa, desculpa se por alguma vez te magoei ou te fiz mal.» e silêncio predominou novamente entre nós. Ouvia ao longe a respiração, agora bem desperta, e a comer as palavras todas que deviam ser exprimidas. Longos e angustiantes segundos, quiçá minutos, de olhos inquietos e suor nas mãos geladas. Desliguei. Desliguei? Ganho coragem e desligo? Oh se a estupidez mata-se...
Hoje procurei não me cruzar contigo, subimos as mesmas escadas mas fui a correr e nem olhei para ti. Ao fim da manha, foi inevitável. Agarraste-me por um braço e meteste-me aqueles olhos e expressão de 'o que é que faço contigo?'.
- que foi aquilo ontem?
- achei que tinha de o dizer...
- han, ok.
- eu gosto muito de ti, acredita.
- mas já mostras-te que há coisas mais importantes.
- nem sempre aquilo que demonstro é o que sinto. há coisas importantes sim, mas isso não faz com que não sejas uma delas.
- pois, também reparei nisso. mas olha, agora já foi.
Baixei a cabeça, sem sonoridade na voz ou no peito, queria abraçar e reconstruir a amizade maravilhosa que houve, e que agora é breve por ter provocado dor. Mas mantive-me quieta, como sempre. Como tu mesmo, encolhes-te os ombros e roçaste em mim ao ires embora.
- "Já vales-te cem". - lembrei-me - passado.
1 comentário:
O que eu costumo dizer é que aquilo que escrevemos com sentimento é sempre bonito, independentemente de qualquer analise formal que pudéssemos fazer.
Continua e passa no meu se quiseres :)
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