Ela dobrou pela terceira vez a camisa. Não gostava de dobrar roupa - ou talvez viesse a gostar, quando o soubesse fazer em condições. A sua mãe costumava dizer-lhe que a roupa estava mais direita quando saia da maquina de lavar do que quando ela a acabava de dobrar. Ele pelo contrario gostava de a ver a praticar esta tarefa. Fazia-o sorrir, dava-lhe espaço para ver a expressão concentrada e de derrota dela, dava-lhe tempo para admirar a mulher com quem vivia sem que ela lhe pergunta-se «o que foi?» espantada, como se fosse possível não gostar de olhar para ela. Como se inclusive, a apreciação constante das pessoas não fosse até um habito dela.Colocou a camisa no guarda-roupa, como se fosse uma peça de cristal. Olhou fatigada para ele, e de beicinho posto sentou-se no colo dele. Encolheu-se para lhe escutar o peito, como sempre fazia, e ele afagou-lhe os caracóis. Jogou a cabeça para trás, batendo leve no material que debruava a poltrona. Pensou para si, em como a relação deles era aquela posição. Ela encaixava nele, era a parte interior que lhe faltava, e ele a dela. Como o mar, desde sempre e até hoje, completa a terra.





















