domingo, 15 de dezembro de 2013

em memória ao Tiago, que estará sempre connosco.

Eu conhecia um dos rapazes que morreu ontem na praia do Meco. E embora me doa só de imaginar o que é morrer no mar, de noite, o pânico, o susto, o desamparo... Eu não consigo deixar de pensar na namorada daquele rapaz. O que é viver a saber que nos foi tirado a nossa pessoa, que ela desapareceu e que não volta mais - a pessoa que mais amávamos no mundo. Como é que se respira depois de recebermos uma noticia destas?
Eu não imagino também a dor dos seus pais e da irmã, que deve ser mais do que interminável, mas eu não sou mãe e por isso não consigo sentir na pele o que é perder um filho de 21 anos que apenas foi de fim-de-semana com os amigos. O que é dar um beijo de despedida e nem sonhar que foi o ultimo. O que é termos um quarto em casa que de repente ficou vazio para sempre. Mas sei o que é ser namorada, sei o que é amar-mos alguém mais que a nós próprios e a este mundo inteiro. E é por isso que tenho o coração com aquela rapariga que hoje ficou sozinha. É por ela que realmente choro. 
Queria ter a coragem e a sabedoria para falar com ela, que nunca conheci, e dizer algo que realmente lhe fizesse bem. Mas neste momento a única coisa que lhe fazia bem partiu e não volta mais. E não há palavras ou gestos que preencham esse buraco no seu coração.


A ti Tiago, olha por todos nós... porque quem fica sofre por ti.

sábado, 7 de dezembro de 2013

chão armadilhado.

E se o nosso amor não for o suficiente para mudar hábitos do nosso parceiro? E se nós, apenas em certas situações, mas bastante especificas e importantes, não formos suficientemente importantes para essa pessoa?
Porque é que todo este amor abundante que carrego no peito não chega? Porque é que quando amamos tudo se transforma em medo?

Eu sempre tive o coração cheio. Sempre gostei com muita facilidade, e quando amei, das poucas vezes, foi tão forte que havia momentos que até respirar doía. Quando amamos vem o medo da solidão, da perda, da efemeridade, das diferenças... Mas vem também a ansiedade da presença, do amor, da entrega, da descoberta dum mundo paralelo que os amantes esconderam a sete chaves dos comuns mortais. Adão e Eva amaram-se mesmo sendo a única opção um do outro: mesmo que Eva fosse vegetariana e Adão toureiro, mesmo que Eva fosse fumadora e Adão tivesse cancro nos pulmões.

Talvez tu, que não costumas ser o meu tu, mas talvez não percebas que se te perco quem fica sozinha sou EU. Não és tu que vais ficar sozinho neste mundo-cão, não és tu que te vais perder a ti próprio. Ou se perderes, não te doará um décimo do que me dói a mim. Chama-me negativa e invejosa, não me importo, porque tenho o coração cheio, e quer queiras quer não, isto é uma responsabilidade tua.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

o dar e o receber.

É o amor dos outros que nos consome, viril e espesso como sangue derramado... E nem sempre é isso justo ou uma coisa boa. A vida ensinou-me, da forma mais difícil, que viver com o amor do outro é uma responsabilidade demasiado grande - um crucifixo que carregamos às costas para todo o lado, a vida inteira. E que, quer queiramos quer não, somos responsáveis pelo bom e o mau que isso acarreta. Porque é a nossa língua que engrossa quando dizemos o que magoa esse amor, as nossas mãos que se contorcem com os gestos errados mas é o coração do outro que rebenta em mil gotas de oceano.
Apaixonarmos-nos é fácil, e eu que achava que amar também o era, descobri que para alguns não é tanto assim. Nós achamos que sabemos o que é o amor, até começarmos a ler os romances dos livros. E é aí que tudo se confunde, porque aquilo que achávamos impossível de ser mais profundo, afinal nem a meio gás vai. Afinal até que ponto é que não se consegue amar mais? Onde está a linha tenuemente fina que separa o amor-sufoco do amor-saudável? Quão cheio está o nosso coração quando se começa a perder a sede um do outro?

Mas é também o amor do outro por nós, uma dádiva que até hoje ainda não consegui medir a grandiosidade. Um presente daqueles impagáveis, uma honra da qual nós nem nos apercebemos que com esse amor, é-nos entregue uma parte da pessoa que ela nunca mais vai recuperar. E por isso quão ingratos somos nós ao estragarmos esse amor? Quanto de nós é egoísmo e quanto é medo dessa responsabilidade...?
É impossível dizer o quanto anseio que o universo seja justo, e nos dê outras novas vidas e encarnações para podermos amar mais e saber cuidar ainda melhor dos corações que nos são entregues. Eu falhei nesta, e isso é algo que nunca mais se recupera. Cuidem bem dos vossos amores, não vá o universo ser mesmo injusto e só nos dar uma vida.

Estás feliz com quem possui o teu coração?

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Praia não é sexy.

Na praia ninguém é sexy. Principalmente nós, as moças. Pois nós podemos ir com o melhor dos vestidos ou até com aquele chapéu maravilhoso, que quando chega a dita hora de apanhar sol tudo muda de figura. Porque lá estámos nós: descabeladas, sem um acessório ou maquiagem que nos salve o (pequeno) outfit. Até os oculos que nos tapam as olheiras da noite anterior temos de os tirar para não ficarmos com duas bolas gigantes em volta dos olhos por causa do sol. E há ainda o famoso baixar das alças do bikini, para evitar as marcas quando começamos a ficar bronzeadas, mas que apenas resulta num peito ligeiramente, ou muito, descaido - mas sempre descaido, nada a fazer. Enquanto isto a nossa pele ainda brilha, não glamorosamente como nas capas de revistas, mas como se tivessemos sido mergulhadas numa piscina de banha - e aí a areia cola-se-nos às pernas, às mãos, à embalagem de protetor solar, enfim...
Depois, há ainda, como se nada disto bastasse, a ida à água. Com as conxinhas da beira a furar-nos os calcanhares, que nos fazem andar todas tortas, ou a rebentação das ondas que nos mete areia em TODO o lado (sim, exactamente aí, e muita). Mas a custo nós lá entramos, e chocalhamos nas ondas ficando ainda mais descabeladas, ou nadamos graciosamente quanto levamos com os salpicos do miúdo irritante ao nosso lado e, consequentemente, nos entope os ouvidos. Aí saimos da água, numa tentativa de andar sexy, mas na verdade vamos aos saltos porcausa das conxinhas que nos furam os pés e com sorte com uma mama de fora, porque nos esqueçemos de puxar as malditas alças do bikini para cima.
Pois, na praia ninguém é sexy.

quarta-feira, 31 de julho de 2013

as minhas letras

Algum dia vais sair do meu coração? 
Um dia escreverei um livro só a pensar em ti. Só preciso de voltar acreditar em mim. E aí, deitarei tudo cá para fora - o que me magoa todos estes anos - e farei com que todos sintam que os seus sentimentos não são únicos, que o amor é uma longitudinal imensa que começou em ti e acaba em mim.

domingo, 21 de julho de 2013

coração batedor.

As descidas térmicas aparafusaram-me a pele. Pregaram-me violentamente como Deus foi pregado à cruz em prol de todos nós. Por vezes lamento que a dor não se meça aos copos de farinha - seria tudo mais fácil de lidar. De ver qual o maior sofredor deste mundo. Qual é o coração mais magoado. 
Por vezes sinto que esse tal coração deverá ser o meu, de tantas dentadas que lhe deste, de tantas vezes que eu o apertei para ver se ele parava de me enganar desta maneira.
Não penso no coração humano como um órgão, mas sim como um pequeno poço de tudo que cada um estima da melhor forma que sabe. E embora cada um lhe dê o uso que quer, eles são todos iguais. E todos deveríamos pensar assim.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

oh este fado.

Comeste-me as palavras. Ou então fui eu que as esgotei: as cuspi para um frasco e enterrei bem no fundo do oceano. Agora sou muda, com o coração vazio e as mãos gretadas de tanto te tentar agarrar. O que é da melancolia que ouvia na minha cabeça? Que me fazia chorar e sorrir ao mesmo tempo, que me apodrecia o coração de tanto amar...Será este o meu destino? Esta sensação de vazio mesmo quando sei que o fundinho do meu coração vai estar sempre cheio? Nós estaremos sempre juntos - mesmo que seja só dentro do meu peito, eu não me importo.

segunda-feira, 3 de junho de 2013

domingo, 26 de maio de 2013

your eyes your eyes.

Eu só queria que visses aquilo que eu vejo. Como é que podes odiar o que vês no espelho, quando eu nunca vi mulher mais bonita que tu. Só queria que tu entendesses o quão esses teus olhos são mentirosos, e o quanto eu por vezes os odeio por não verem a realidade que eu vejo.

sábado, 25 de maio de 2013

misery.

Há épocas da nossa vida em que estamos lindas por foras e feias por dentro. Tenho os bolsos e o coração vazio.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

o desemprego

Eu tenho tentado, não está a dar mais para aguentar esta tristeza que tenho sentido todos os dias no ultimo mês. Está-se apoderar de mim e a transformar-se em amargura e frustração... Por o simples facto de: eu não sei o que fazer da minha vida.
Eu trabalhei 9 meses numa das maiores industrias de moda deste país. Eu trabalhei com prestigiados profissionais, passaram-me peças de desfile pelas mãos, eu aprendi a destingir um vestido Prada de um vestido Gucci. Eu, ainda que mal paga, percebi ainda mais que era aquilo a minha casa profissional. Vesti a camisola, lutei com os meus colegas por aquilo como se fosse nosso. Eu estava a fazer o que ambicionava para a minha carreira. Até ao dia em que fui despedida. 
Hoje em dia ser-se despedido não significa que não somos bons o suficiente, tal como o facto de não arranjarmos emprego seja por esse mesmo motivo. Isso já passou. Já passou o tempo em que nos rescindiam o contrato por não "reunirmos as condições necessárias para as funções". Agora somos despedidos porque somos 1 em mil. Tal como não arranjamos emprego porque para uma oferta, há cem candidaturas. E no meio dessa candidatura existe alguém que, desesperado, já se candidata para um estágio curricular não-remunerado - porque é "currículo, que se lixe" - e nós não conseguimos competir com isso. Não se compete com mão de obra à borla. Não se compete com alguém de 22 anos, recém-licenciado que se oferece para trabalhar sem pedir nada em troca.
As empresas não têm dinheiro, ou têm pouco, ou até têm e fingem que não para poderem também usufruir desta situação. E vivem esta ideia iludida de tal forma que acabam por acreditar nela e enquanto deitam a cabeça na almofada porque deixaram de ter problemas de consciência - se alguma vez os houve - nós não deitamos a nossa porque continuamos sem emprego e sem saber o que fazer.
E é por isso que não aceito o "se fores mesmo boa naquilo que fazes, consegues", porque nós somos todos muito bons, e quem diz isso é porque não tem fé nas capacidades dos portugueses. Nós somos todos bons, cada um da sua maneira, cada um com as suas manias, mas nós somos mesmo todos bons quando gostamos do que fazemos.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

transborda-me a alma.

E se eu morrer com tudo isto que suporto dentro de mim? Se eu morresse amanhã, amar-me-ias por mais quantos anos? 

dívidas

"Eu enxaguei as tuas lágrimas secas sem nunca te tocar. Espero que nunca te esqueças disto." - disse ele.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

vintage love.

Eu adoro paixonetas antigas; mentia se dissesse o contrário. Porque é impossível não se sentir nada, ser-se indiferente. Nós gostámos, adorámos e até amámos aquela pessoa. Seriamos loucos? Não, havia ali um certo sustento - um motivo. E eu continuo a gostar dos meus. Porque eu sou a mesma, sempre a mesma. Com os meus amores e desamores, com os meus hábitos insolentes e a minha veia fadista.
Ver as caras das pessoas que amámos ou julgámos amar, passados tantos anos, é sentir que aquela pessoa mesmo sem saber tem um pedaço de nós dentro dela. E eu tenho um pedaço de cada um deles em mim que não trocava por nada deste mundo.

A ti, meu amor de sempre, e a todos os outros pequenos e grandes passados que serão sempre meus também.

é.

Quando te conheci o peito mal sabia eu o longo caminho que estava a começar a percorrer. Doíam-me as pernas, e foi de tanto correr psicologicamente em ti - curioso. Eu sei cada linha tua, e pior é que agora já odeio isso: todo este meu conhecimento de ti, como se tu fosses eu própria. Como se nós fossemos um só, coisa que afinal nunca fomos. A vida é uma puta. É uma puta porque te tirou de mim. Raptou-me da tua cabeça, do teu coração e até te tirou a sede que tinhas pela minha carne. Eu preferia isso a este nada em que agora vivo. A vida é mesmo uma puta. E eu também.

terça-feira, 14 de maio de 2013

segredos

Eu sou tudo aquilo que tu não conheces. E nada descreve mais as nossas relações que este simples facto. Sabes o meu nome, a minha idade, onde moro e onde trabalho. Mas não sabes quem sou, por mais anos que passem, por mais tempo que estejamos juntos. Enquanto não souberes isto, nada sabes de mim afinal. Mas eu não to conto, tu que descubras, se realmente me conheces.
Algum dia alguém saberá? 

falta oxigénio.

Viver segundo aquilo que nós não somos deve ser das coisas mais dolorosas que conheço. Não mata mais que o amor, mas mói mais que tudo neste mundo. Seguir regras que não concordamos, conviver com pessoas com quem não nos identificamos, viver nesta bolha de ignorância e crítica permanente. Se alguma vez eu achei que este ia ser o meu plano actual, e que ia piorar de ano para ano, que quanto mais velha ficasse mais insuportável ficaria esta sina? Nunca. E não o desejava a ninguém. Claro que há sempre coisas piores - como tudo na vida - mas esta sensação é tão constante que começo a desconhecer qualquer outra.

sábado, 13 de abril de 2013

o amor, sempre o amor... e tu.

Um dia conseguirei falar de amor como se eu fosse a personificação dele. De tanto lhe ser devota, crente e sua seguidora-mor. Haverá pessoa no mundo que tenha amado e errado tanto quanto eu? Eu fiz destes amores a minha vida, o meu objectivo, a minha conquista pessoal. Eu sonhei com isto desde pequena pois sempre senti que o meu dia iria chegar. E agora tenho todos estes fantasmas atrás de mim, como se eu merecesse tal castigo. Conseguirei eu realmente algum dia seguir em frente sem me lembrar que posso olhar para trás? Serei eu um dia realmente completa, sem ti?
Tudo por causa da maldição que me lançaste. Iremos um dia morrer separados, mas a pensar um no outro?

a vida é uma procura sem fim.

Quero acreditar que o motivo que trás cada um de nós a este mundo, ou seja à vida, é a busca da pessoa com quem queremos um dia casar. É ou não bonita esta visão que tenho das coisas, mas se pensarmos a fundo, é realmente isto que nos ocupa a mente quando chegamos a determinada idade. Ninguém quer a eternidade sozinho. Queremos a pessoa certa do nosso lado - aquela que nos preenche e que nós temos, milagrosamente,  a feliz capacidade de a preenchemos a ela. Como sempre digo, há amores que são para sempre. E os que não são, não faz mal. A vida (e nós) encarregar-se-à de encontrar um novo pedaço de ying que preencha o nosso yang.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

verdades.

É curiosa a rapidez com que deixamos de parte o nosso romance para ler o romance dos outros.
E eu leio porque estou mais vazia do que algum dia estive. Tenho um medo incansável dentro de mim. Como se sentisse que nunca mais me vou adaptar a nenhum sitio no mundo, nem voltar a gostar de alguém ou até mesmo, eu própria, voltar a ser gente. Queria eu uma cova no soalho para me poder enfiar lá dentro e chorar para sempre este temor - este nódulo maligno que há em mim, que me queima e afunda na solidão.
Falta-me compreensão. Falta-me o alguém que diz "isso é normal", "eu sei o que isso é". No fundo, aquelas palavras que nos fazem sentir que, afinal, não somos assim tão distintos uns dos outros, já que o mundo é uma ervilha murcha.

Prenderam-me os pés e eu não sei voar sem eles.

O orvalho caiu seco naquela manhã, pingou espessamente sobre as folhas, rico em odor e pobre em humidade. Ouvia-se ao longe uma balada, sempre com o mesmo ritmo lento mas mesmo assim forte. Era o meu coração a bater. A pele enrugava-me como se tivesse cem anos, mas a minha memoria estava tão fresca que me arrepiava.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

ninguém é insubstituível.

Hoje sinto-me trocada. Traída e arrastada para a mais profunda poça de lama - não há musica que me salve a pele nem sol que me aqueça o sangue doce. Já não sobrevoam mais gaivotas o meu horizonte, estão agora mais longe do que nunca à procura de novas redes onde se embrulharem para serem mortas. Compilei cada terno terço meu e supliquei a deus uma justificação para toda esta injustiça que chegou a mim dentro de uma garrafa velha. Sou nova, não serve isso de desculpa?

domingo, 31 de março de 2013

casulo.

E quando se sente que talvez o melhor é desistir, o coração aperta como nunca antes. Engole-nos os suspiros, quebra-nos os ossos e fraquejamos perante a nuvem negra do óbvio. É uma imensidão sangrenta esta que me acompanha. Esta mesma que nos trespassa - uma mão sem futuro e um peito sem pulmões para gritar.
Não há amparos para este vazio que sinto hoje dentro de mim, esta dor insólita de solidão e luta pela necessidade de expressão. Se eu nunca mais for a mesma, amar-me-ás mesmo assim? O barco naufragado do meu passado já passou por estas ondas turbulentas, já levou muitas pancadas - já abandonou e já foi abandonado. Qual é a voz que nos faz ter aquela vontade de sair da sombra das flores e gritar? Mesmo sem pulmões, mesmo sozinha no mundo; que voz é essa que as pessoas têm em si que eu não tenho? Quem é que lhes lambe as feridas quando elas são interiores? 


Não ter emprego faz com que nos seja fácil trocar as voltas aos horários do sono, mas se o motivo for a escrita, então não me importo de nunca mais voltar a dormir.

sábado, 30 de março de 2013

paragem zero.

Escrever dói. E eu moro dentro de um balão. Numa bolha de ar cheia de picos, límpida e disforme como o teu coração. É nela onde me encolho, retorço e escondo os ouvidos das maleitas exteriores... Há um turbilhão de emoções que me embalam, que me adormecem desta dureza que é decidirmos a nossa vida; desta angustia que é ter de viver com as acções dos outros e não termos o total controlo do nosso destino. Daquilo que nos afoga, que nos consome sem piedade. Há dias em que morro ao acordar - e há dias em que nem sequer acordo. Não sinto o odor do oceano que já foste em mim, não sinto nada. Só esta pequena tempestade dentro do meu copo interno, como se um navio estivesse a partir e eu não fosse veloz o suficiente para o alcançar. 

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

O amor.

"Nos anos 70, Marina Abramovic viveu uma intensa história de amor com Ulay. Durante 5 anos viveram num furgão realizando todo tipo de performances. Quando sentiram que a relação já não valia aos dois, decidiram percorrer a Grande Muralha da China; cada um começou a caminhar de um lado, para se encontrarem no meio, dar um último grande abraço, e nunca mais se viram. 23 anos depois, em 2010, quando Marina já era uma artista consagrada, o MoMa de Nova Iorque dedicou uma retrospectiva à sua obra. Nessa retrospectiva, Marina compartilhava um minuto de silêncio com cada estranho que sentasse à sua frente. Ulay chegou sem que ela soubesse e... foi assim."


E são estas coisas que me matam. Este tipo de amor que me aquece demasiado o peito, que me faz chorar e querer o mesmo sentimento para e por mim. Foi um minuto de 23 anos, e só eles sentiram o quanto, por vezes, nem é preciso dizer nada.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Tu.

Ontem apercebi-me que mesmo sem notar, me lembro de ti todos os dias. Isto porque a tua casa, ou antiga casa, faz parte do meu trajeto diário para a minha vida quotidiana. E espreito - muitas vezes involuntariamente - sempre naquela direção, de olhos colados ao vidro do autocarro, na esperança de te ver, mesmo que de longe, para ver como estás. Como és, no que te tornaste... Mas nunca te vejo. Sempre te foste embora? Tenho tentado entrar em contacto contigo, envio-te mensagens. Não as recebes? Ou apenas não lhes respondes? Não te consigo deixar em paz porque eu também, volta e meia, não me sinto em paz. E só quero saber como estás, se estás feliz, como tens andado. Pensa em mim como alguém com quem poderias ocasionalmente ter dois dedos de conversa. Recusavas isso a um estranho?
O meu numero é o mesmo. Por favor. E não me perguntes porque me preocupo e o porquê de precisar de saber se estás bem, eu só o sinto.

domingo, 27 de janeiro de 2013

um lugar vago.

A chuva caia exactamente com a mesma intensidade com que caíra no dia anterior. Audaz e segura, forte e persistente... Precisamente tudo aquilo que eu não era, nem conseguia ser por mais que fingisse. O ar cheirava a orquídeas, a passos vagos na praia e a memorias. Sentia o peso do teu corpo no sofá como se ainda a segundos lá estivesses estado e não à 2 anos como conta a verdade; a tua mão descontraidamente pousada na almofada e a cabeça recostada inclinada na minha direcção onde me espreitavas ocasionalmente pelo canto do olho, sempre com o teu medo de que eu me fosse embora - quando na verdade, e ironicamente, foste tu que partiste. E eu que nunca tive medo agora vivo apavorada, de coração preso à tua ultima imagem neste sofá junto a mim com o todo o teu calor e amor.
Tu foste tudo aquilo que alguma vez tive de bom em mim e por isso não te consigo odiar: foste demasiado bom durante muito tempo para um dia na nossa vida me fazer mudar todo o amor e admiração que tenho pelo ser humano que és. Não me importo se me deixaste de um momento para o outro, se chorei noites seguidas sozinha nesta casa tão grande, se me senti desprotegida em relação ao mundo. Tu foste o meu sonho e sei que eu fui o teu também. E por mais assustador que seja este presente sem ti, nada apaga um passado maravilhoso ao teu lado, pois eu amar-te-ia por mais dez, vinte ou cinquenta anos.