Muitas vezes lamento que a felicidade seja animal de perninhas curtas. Que rasteje pelo chão, silenciosa, tentando ao máximo passar despercebida. Nem todos a vêem, e muitos os que a avistam mesmo debaixo do seus narizes, não são capazes de a alcançar. Têm receios a navegar-lhes na mente, antepassados cruéis e injustos. Acreditam piamente que a felicidade seja impossível de regressar. Este animal é esguio, passa entre as gotas da chuva. É magricela e escorregadio. É preciso muita força, muita fé para o manter nas mãos. A felicidade é um bicho forte, ela faz de tudo para nos escapar. É presunçosa, não se acha digna de qualquer ser. Acha que é preciso ser merecida. E talvez até tenha razão. Mas por vezes foge, e ficamos destroçados a vê-la partir, porque achamos que não a voltaremos a ver. A sentir o seu odor único e inconfundível. É um animal selvagem, bastante difícil de domesticar. É por vezes pontiaguda, com picos difíceis de retirar. Mas quando finalmente dominada, é do mais adorável e viciante. Aconchega-nos, enrola-nos num círculo de borboletas no estômago. Dá-nos a melhor das sensações, e fica connosco. Fica sempre, até lhe voltarmos a tratar mal e ao nosso coração, que não vive sem ela.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
1 comentário:
fiquei sem palavras, o que escreveste é simplesmente verdade!
Enviar um comentário