domingo, 14 de agosto de 2011

expelindo.

- Eu não guardei sempre segredo...- ouvi-me confessar por fim, exausta, fatigada de todo aquele aparato. Fechei os olhos por segundos e senti-me em pleno tribunal. Sentada naquele palanco de madeira, como uma espécie de gaiola descoberta onde se sentam os réus, mesmo ao lado do juiz tão firme de martelo em punho. Abri de novo os olhos, afaguei as pálpebras e tudo desvaneceu rapidamente. Não havia salão nenhum, nem gaiola, nem martelo. Ao invés de tudo isso existias simplesmente tu, à minha frente. De olhos postos nos meus, com uma cor que não entendi de imediato se seriam da cor da ligeira compreensão ou se, pelo contrário, apenas estivesses perdido na incerteza do que acabara de te dizer. Foi aí que reparei que já não sorrias como outrora. Aliás, faria anos que não te via sorrir verdadeiramente. E talvez só me tenha apercebido de tal nesse momento por, inconscientemente, ter imortalizado tão ferozmente o teu doce sorriso nas minhas memórias, a ponto de nem ser capaz de reparar que na realidade ele já não existe mais. Serraste o lábio como se me tivesses escutado a mente e quase juro que pensaste o mesmo que eu «não foi só o sorriso que desapareceu...». E era verdade. Entre nos desaparecera mais do que aquilo que ainda ficara. Que era tão, tão pouco. Tão fino como uma linha, tão breve como a contracapa de um livro. E lá no fundo ainda doía sabe-lo. Talvez por isso não o tenhamos prenunciado por palavras audíveis - já que ambos sabemos tão bem que aquilo que é dito magoa sempre mais que a arte da pantomina.
Inspirei fundo, movida pela tentativa de reestruturar mentalmente as minhas ideias o mais claramente possível. Quais seriam as palavras certas para demonstrar o peso que alguém teve na nossa vida, e pior, como explicar esta imortal e intocável fixação por alguém, quando já nem sequer é alimentada? Não irei parecer louca? (...)

1 comentário:

JL disse...

amei, amei