Ao contrário de toda a minha vida, quando entrei neste local de ensino eu dei o triplo de mim. Eu quis ser a melhor aluna, ter testes bem acima do razoável, ter as melhores médias. Eu decidi crescer, deixei de brincar tanto porque percebi o quanto isso me distraía e prejudicava nos meus objectivos. Fiz, no fundo, finalmente jus à idade que tenho. Até à altura tinha as piores notas e os melhores colegas. Desde à dois anos que tenho as melhores notas e os piores colegas. E, ainda que as vezes isso seja difícil de suportar, fez-me ver que talvez nem toda a gente me visse para além de uma pessoa alegre. Aqui, onde estou, vêem em mim tudo aquilo que não sou. Acham-me fraca, falsa e secante. E quando brinco, acham que me esforço para tal, que não é algo natural. Eu, que nunca tinha ouvido tais adjectivos dirigirem-se a mim. Isto começou aos poucos, porque sou muito diferente deles: sou das mais velhas, a que tinha experiênciado mais vivências e a única que já tinha habilitações tal como um nível de ensino mais acima do deles. E eu tinha dado o salto, percebido de que as coisas agora eram a sério, e eles continuavam a brincar, como tinha eu feito antes de entrar para este novo mundo e conhecê-los. Se fosse à uns anos atrás, pensaria que "queria lá saber", há mais gente. Mas ali é diferente. É necessário que haja uma certa ligação, estamos muitas muitas horas juntos num espaço escolar que não é assim tão grande. Sentiu-se aquela breve rivalidade dos cursos, a trivialidade dos anos mais acima do nosso. A sensação de ascensão e de responsabilidade de que iremos trabalhar quando sairmos dali. Formaram contra mim a relação mais estranha de todas. Nem sequer é bem um amor-ódio, é um interesse com alguma simpatia ocasional. E enquanto por um lado isso me aborrece imenso, porque é um dia-a-dia numa situação cansativa, por outro lado vejo o quanto eles estão a perder e eu a ganhar. Porque eu vou vencer, e eles vão continuar a brincar e a criticar aqueles que fazem o que eles deveriam fazer.
domingo, 2 de outubro de 2011
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