quarta-feira, 11 de agosto de 2010

- 7 Letter To Your Ex-boyfriend

D,Quantas cartas já te escrevi? Nestes três anos, quantas "cartas" trocámos? Quantas vezes nos despedimos, quantas vezes tu regressaste...? Quantas vezes o nosso coração quebrou precisamente por causa destas malditas cartas? Eu perdi-lhes a conta. São decerto infinitas. E esta, inevitavelmente, será apenas mais uma no meio dessas tantas. Não é esta a primeira, nem será a última. Porque escrever para ti é instintivo. Como os animais nascem a saber procurar alimento, eu muitas vezes sinto que nasci a ter de escrever para ti. "Ter" talvez seja um mau verbo, porque não é uma obrigação, e, infelizmente com o tempo, deixou também de ser uma vontade. É sim uma necessidade. Daquelas que se controla, mal, mas com o tempo se aprende a controlar. E o quão inevitável é ao falar de ti, não falar também no tempo. Nesse inimigo nosso, que nos arrastou tanto neste mar negro de correntes descontroladas. O tempo não é amigo de grupos. Ele somente auxilia os individuais. Pessoa por pessoa. E as pessoas é que se ajudam entre si. E talvez tenha sido isso que nós não conseguimos fazer. Aprendemos muita coisa, mas não fomos capazes de trocar esses ensinamentos. De abdicar deles, ou diria até, dar o braço a torcer e lutar por um amor que valia pena. E valia, até essa altura, mais que qualquer amor à face da terra.
É no entanto estranho escrever-te assim, tão directamente e sem meias palavras - se é que me entendes. Habituei-me aos disfarces, à ocultação de informação aos outros para ao máximo me tentar dedicar a ti. E sei bem que nesta parte já tu não acreditas. Tal como sei o quanto contrariado e magoado me estás a ler. A fome voraz que tens de não querer estar a ler isto. Mas mesmo assim não o deixas de fazer, porque tal como é uma necessidade minha escrever para ou sobre ti, também é uma necessidade tua ler-me. Palavra por palavra, muitas vezes mais que uma vez. Foste tu que me acentuaste esta minúcia pelas palavras. A querer elabora-las e a meter-lhes o drama, o exagero. Brincar com elas afogando-as em sangue. É uma característica tua, daquelas que qualquer um repara, e que para uns é estranho e para outros do mais dócil que há. Eu apaixonei-me pelas tuas palavras. Pela verdade delas até a uns tempos. Mas disso doem-te os ouvidos de tanto eu te obrigar a me escutares, e eu não o quero mais. De nada serve, e em toda a minha vida, se houve coisa que eu desejei mais do que tudo, era nunca te magoar. Falhei, redondamente. A minha maior falha provavelmente. Porque quanto mais o desejei evitar, mais o fiz, mais grossa foi a agulha que te enfiei na pele. Mas esta agulha era, literalmente, um pau de dois bicos. E quanto mais te penetrava, igualmente ou até mais eu sofria. Mais do que metade de mim, tu eras a minha vida. Disse-te coisas que nunca disse a ninguém, que ainda hoje não disse. Ás vezes custa, porque a vida ás vezes é assim, mas há significados que quero guardar só para nós. Mas não to prometo. Porque sabemos muito bem o quão difíceis são as promessas de cumprir. Eu meti-as na categoria de coisas impossíveis. E duvido que algum dia as tire de lá.
Tenho tanta e tão pouca coisa para te dizer. Porque se formos a ver bem... O que é que eu já não te disse? O que é que nos falta dizer um ao outro? Para ti nada, porque tens o coração a transbordar de raiva, de uma amargura tão dura que me quebra o coração. A última vez que falamos não foi das melhores, trocamos mais destas cartas, sinceras mas afiadas. E tu isso não perdoas. Não perdoas a dor que sentes. Nunca perdoas-te. Vinda de mim ou desse teu passado.
Mas queria que acima de tudo, mais que qualquer coisa neste momento, que tu estivesses a ler esta carta com o coração. Com aquele que eu conheci. Com aquele que eu amei e que tanto orgulho me deu. Eu nunca tive orgulho em ninguém a não ser em ti. É daqueles sentimentos dificílimos de eu sentir. Quem me conhece sabê-lo. E tu ainda me conheces. Ainda que o negues, que o recuses, tu conheces cada linha daquilo que sou. Por mais mascaras que eu eventualmente tenha vestido, por mais desvios da verdade pura, tu eras o meu manual de instruções.
O que me descansa também, é saber que a probabilidade de alguém ler isto para além de nós os dois é mínima. Ninguém lê textos grandes. Só os que vêm nos livros. Não é que tenha vergonha de ti, de me expor assim. Eu contava a nossa história ao mundo se ele a quisesse ouvir. Aprende-se tanta coisa ao escutar, também foste tu me ensinaste isto. Ainda que, julgo agora, tu já não tenhas os mesmos ideais. Mudas-te de filosofias, de ideias. Mudas-te. Mas não tudo, eu sei. E acredita nisso. Que de longe me és um estranho.
Eu sabia que ia chorar ao escrever para ti, porque há anos que o ritual é o mesmo. É uma dor tremenda que embate no meu peito, se o teu nome vem ou vai. É comum, é pequenino, mas é teu. E eu não conheço ninguém igual a ti. Para o bem ou para o mal, tu és único. Mas não és perfeito como eu julgava, tens defeitos. Mas todos os temos. Só não os descobri na altura certa. Descobri sim um amor arrebatador, que ainda hoje permanece. Sem lume que o esquente, mas aceso, como ditou em poemas Camões.
cansada de despedidas,
Mafalda

5 comentários:

Soraia disse...

Está lindo *.*

joana disse...

dei por mim com a mão na boca e lágrimas gordas a escorrerem-me pela cara. são as palavras que nunca consegui encontrar, ou pelo menos juntá-las com alguma coerência. disseste tudo o que sempre quiser dizer, sem tirar nem pôr.
está lindo mafalda.

joana disse...

*quis

Anónimo disse...

Quando acabei de ler fiquei mesmo surpreendida. está forte e nao imaginava qe o fizesses.

DLino

disse...

eu li e acho que às vezes faz-nos bem, expelir ainda que a ferros quentes o que nos povoa o coração.

está muito bonito mafalda.