Deram as mãos, e ela, ao sentir aquele arrepio desconfortável na alma, apertou-a com muita força. Era difícil de aceitar. Aquelas três noites seguidas a chorar de pouco ou nada lhe tinham servido. Tinha decidido sim. E já não havia nada a fazer. No fundo, era o seu sonho. Até que ponto se é capaz de escolher entre um grande amor e um grande sonho? Mas ela escolhera. Escolhera aceitar a proposta de trabalho e ingressar para os Estados Unidos da América. Iniciaria no estrangeiro a sua carreira como manequim, com o seu nome numa das agências internacionais de maior gabarito actualmente. Era impossível não aceitar. Lembrava-se agora da chamada, enquanto caminhavam pela calçada junto à praia, num silêncio cuidadoso. Berrara um sim imediato quando ligaram a convida-la, e os olhos brilharam com uma felicidade imensa. Mas ao desligar o telefone deixara-se cair no sofá e chorou como nunca antes tinha chorado. Era um sonho e um pesadelo numa fusão frenética e ela lá bem no meio, forçada a escolher.
«Odeio escolhas.» disse-lhe por fim, ainda de cabeça baixa. Ele olhou para ela, abriu a boca mas de imediato a fechou. Que poderia ele dizer? Também ele odiava que ela tivesse tido que escolher. Queria-a feliz, mas ao seu lado também. Chegaram ao fim da meta, e também a luz do sol chegava ao fim. A noite já era mais presente que o dia, ficando a temperatura um pouco fresca. Sentiu então a despedida aproximar-se. Abraçaram-se, e segredaram infinitas declarações de amor ao ouvido um do outro entre lágrimas dela e apertos revoltos no coração. Os olhos dele pareciam ocos, e o seu interior deveria estar exactamente igual. O corpo dela latejava, sentia-se quente e fria ao mesmo tempo. Amanhã, muito cedo, provavelmente ainda sem o sol florescer de novo, ela estaria nas escadarias do aeroporto com a mãe, numa outra despedida e por fim, pronta a voar. E o pior eram as incertezas de seu regresso. Sem datas, sem conhecimento da próxima vez que conseguiria comunicar com Portugal. Tudo isto só lhes aumentava a angustia. Disseram coisas que nunca tinham dito antes. Murmuraram palavras como "eternamente" e "nunca", palavras que ainda sendo o seu significado uma realidade incógnita, na altura era o que realmente sentiam e necessitavam de dizer. Trocaram beijos e ele passou-lhe os dedos desajeitados infinitas vezes pelos caracóis escuros dela. Adorava-os. As suas formas, o seu volume. O quanto lhe ficavam bem e a tornavam ainda mais maravilhosa. Ela encostou a cabeça no ombro dele e encostou o nariz ao seu pescoço, procurando sossegar um pouco. Como é que iria viver sem o cheiro dele? Sem aquela fragrância entre homem e amêndoas doces... Beijaram-se pela ultima vez. Os lábios termião, de saudade e de amor perpétuo, as línguas guerreavam entre a paz e o adeus. Ele afastou-se, num acto de racionalidade, não querendo continuar alimentar o aperto amargo que tinha nas entranhas. Mas ao levar a mão dela aos seus lábios, fechou os olhos e chorou por fim, pedindo-lhe quase ajoelhado que não fosse para longe dele. (...)
2 comentários:
lindoo +.+
essas escolhas sao tao dificeis =O
mas por vezes temos qe as fazer por mais qe nos custe =\
Fiquei com uma sensação estranha depois de ler este...Que aperto se tivesse que escolher.
Boa história *
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