Não sei quanto mais tempo aguentarei. Queria morrer e regressar no anonimato.Sem vagões de más energias apenas paz de espírito.
" tenho saudade, saudade de saber dar-te a mão, saudade de ligar-te e ouvir a tua voz, saudade de ter a certeza que estarias sempre ao meu lado mesmo a 500 km de distância! Aquelas longas conversas em que o cenário era a casa de banho da escola, eram tão confortáveis ... Tenho uns segredinhos para te contar, e eu sei que és a única pessoa que vai manter o segredo guardado durante o tempo que eu te pedir. Tenho saudades de sentir o meu coração a bater por ter saudades de ti, mas o tempo voa .. eu senti o vento soprar e com ele levou o que nos unia. Já lá vai tanto tempo mas ainda te quero voltar a dar as mãos, como dava daquele jeitinho, remember? Só contigo eu sabia movimentar-me, (...). As coisas boas vão embora mas nunca se esquecem. " A.
Querido Mar,
Será a diferença na alma uma raridade tal que ao ser achada é milagre? Estou só a divagar. Mas, como eu sou apaixonada por um certo exagero e a espontaneidade! Perdoem-me os "críticos" que por aqui me lêem. Só que haverá felicidade maior do que aquele que é desinibido e quer o melhor que lhe for possível ter? Não gosto muito de pessoas modestas, sinceramente. Gosto da humildade, da ausência de convencionalismo. Que se saiba ser oportuno quando o assunto somos nós mesmos. Mas não que se seja muito modesto. Se temos valor, que tenha-mos então noção e gosto por ele. Ai como eu adoro um ego refinado.
No outro dia "chamaram-me atenção" em relação a ti. Uma observação inocente mas que me fez sair de onde estava com as lágrimas a tentarem ferrar-me os olhos. Porque a palavra meu vem sempre antes do teu nome, quando eu falo. Juro por tudo que nunca tinha notado. Nunca tinha dado por nada. Meteste-me maluca, e espero que tenhas bem noção disso.
Saí do carro de expressão carrancuda e fechada. Nem olhei para ela. Dirigi-me à traseira do Agila e abri o porta-bagagens. Tirei o meu saco da Fnac com a minha mala para a maquina fotográfica e o saco do continente com as minhas ultimas duas aquisições de cremes Nivea e Garnie. Fechei-a com força. Ela disse-me "Adeus, até amanha". Não olhei para ela mesmo assim, atravessei a estrada e desci com dificuldade a escadaria escorregadia. Ouvi o carro arrancar, e muito baixinho soava Adriana Calcanhoto do rádio dela. Apetecia-me gritar, alto para que todos me ouvissem, e mandar os sacos das compras fora, sentar-me na escada e deixar as lágrimas avermelharem-me os olhos. Mas não o fiz. Tenho demasiado a mania para o fazer ao pé de pessoas que não conheço de banda nenhuma. Por isso deixei-me só olhar o carro desaparecer na curva logo a frente, e como pontapé violento na consciência imaginei se ela tivesse um acidente. Arregalei os olhos e chamei-me nomes «Estúpida, para que é que estás a pensar assim?». Desci o ultimo degrau da escada e andei pelo passeio. Tinha a cabeça cheia. Mais que o meu saco da Fnac com aquela mala preta enorme. Tenho a porcaria da maquina a tanto tempo e ainda não tinha comprado a porcaria de uma mala para a levar e guardar mais protegida. Devia estar a espera que ela se estraga-se ou assim «Estúpida, já tens a mala porque é que estás a pensar nisso?». Lembrei-me então de novo dela. Há muita coisa que nunca lhe disse. Ao contrario dela, que me diz tudo sempre que o tema é ofender. Eu ao menos calo-me. Se abro a boca é para discutir. Naquele momento apeteceu-me dizer-lhe coisas. Dizer que apesar de ela não me perceber, de não aceitar a minha forma de ver as coisas, não compreender os meus sonhos, as minhas ambições, achar que sou fútil e feita á base da imagem, que embora ela pouco fizesse por mim, o não me dar o valor devido e importância suficiente para tomar decisões de maior porte para além de a ajudar a comprar camisolas, o eu travar autenticas batalhas para a tornar mais importada com a aparência e feminina ela achar que a estou a chamar de feia e gorda, que apesar de ela não confiar muito em mim, não gostar dos meus amigos, me achar influente e uma miúda pequena despreocupada com o futuro, me deitar constantemente a baixo, e achar que sou diferente deles todos por imbirrância e achar que tenho vergonha de poder vir a ser as pessoas que eles são, e achar que o caminho que estou a seguir me vai levar ao fundo do poço... que ela é minha mãe. E que há quem tenha uma pior que ela, que apesar de tudo aquilo não deixo de gostar dela e que ela tem muitas qualidades. Que não aceito certos pontos das suas personalidades porque podem ter boas virtudes mas têm imensos defeitos. Que não tenho vergonha deles, apenas quero ser o melhor que puder e á minha maneira. Que gosto muito dela, mas que nunca mudaria por ela.
1. Dizem que "quem ri por último ri melhor", na minha opinião acho que não se ri assim tanto. Porque se riu em último foi porque não percebeu a piada e ri-se para não parecer mal.
Ele espumava da boca, á velocidade do leite do pacote a cair no copo de vidro. O stress instalara-se na casa, naquele pequeno pedaço de paraíso estético. Seria-o também emocionalmente se não fosse tais anomalias frequentes na saúde das crianças que por lá habitavam. Era fim de tarde, e a noite anunciara-se longa e desconfortável. Era uma cabana, madeira gasta, farrusca e aparentemente desarrumada. A criança estendera-se involuntariamente no chão, caíra como peso morto e fizera um estrondo. O vaso caiu, a outra criança, uma das meninas, chorou. Não pela criança a morrer, pelo vaso partido. Não gostava de agua, muito menos perto de si. A criança no chão fixava o olhar no tecto. Curiosamente aquela madeira no tecto ainda tinha cor de madeira. A madeira que nos filmes só tem aquela cor no Natal, para dar um ar mais festivo e os tons de castanho acompanharem o vermelho e os dourados. Jogos de cores para atrair o consumismo. E a criança no chão. Não a pensar nisto, nem em nada. Está a morrer, devagar mas sofrendo mais do que a tenra idade lhe tinha alguma vez permitido pensar ser possível. Chegou outra criança, expressões vazias, contornos pouco definidos e cabelo ruivo. Gatinha o mais que pode para ao pé da criança que morre. Chama por ele, deita-se ao seu colo. Faz, sem o saber, pressão no tronco, e mais difícil é respirar. Mata-a mais depressa, então. A criança que revira os olhos e expulsa liquido da boca agradece. Quer que acaba a dor retorcida no seu interior, seja de que forma for. O rapaz mais velho, ainda que criança de cabeça igual a dos outros, entra no corredor. Vê a cena, deixa cair o garrafão da agua sem tampa que carregava para a casa de banho. A criança com medo da agua entra em pânico total. Grita como se lhe tivessem a espetar laminas nas costas. Produz uma expressão de terror no olhar assim que a agua atinge os seus pés descalços. Corre e pisa a criança quase morta. O bebé no colo desta rebola para o lado, mete para se segurar a mão na saliva que escorreu da boca da outra para o soalho. Limpa-a ao casaco rendado velho e grande para o seu minúsculo tamanho. A porta estragada da rua abre. Chegam as crianças gémeas, a tensão sobe. Têm deficiência, ambas, de igual amplitude de gravidade. Que é muita. Não se apercebem do real da situação, correm para a criança que espuma da boca, sorrindo, como se de um jogo se trata-se. Está morto.
O desconhecido sempre foi algo que me dizia que me defendesse e protegesse a minha intimidade com toda a força e garra que tinha. Quebras-te o meu escudo. Furas-te de punho cerrado a placa nublada em minha volta que me afastava dos curiosos ou interessados. Nunca percebi se gostava de assim ser, era mais o habito e o medo que me tomavam as acções de me resguardar do resto. Melhoraste-me, e este meu instinto manteve-se em stand-bye.
Senti o ardor. Como se fosse a cruel ruptura de uma amizade em bodas de ouro no que trata a cumplicidade, não em datas. Vai na volta, até foi mesmo isso. Senti no decorrer de segundos o aperto de horas no coração carente de quando as coisas corriam melhor. Não querendo exagerar, foi como se por semanas corridas tivesse passado de teletransporte para um mundo diferente. De admirar, de querer conhecer mais. Saudavelmente, sem fanatismos. Tive cuidado ao tecer o tecido, no acrescento ao bordar, como quem se dedica a algo bom para a cabeça e o coração. Que o distrai. E, puramente, sinto o meu empenho atirado pela tal janela fora. Ainda que nem o tenha acabado. Sendo-nos sincera, no inicio(?)
A crise tem piada. Tem piada pelo seu ridículo geral. Há menos dinheiro. Ai há? "E os preços sobem." Há! Então se há menos dinheiro, vamos mas é subir os preços! Pois claro. Pergunto-me é para quê. Para se comprar ainda menos? E se se comprar ainda menos... os preços vão subir mais (?) E se deixarmos simplesmente de comprar, espera, não me digam que vão meter o pacote de leite da "É" ao preço de um ipod? Ridículo por ridículo, eu até me ria disso. Ok, se calhar estou a exagerar. Vai na volta sou eu que sou uma má língua e venho para aqui falar do que não sei. Mas aí é que vocês se enganam! Sei muito bem o que é a crise. Agora que venha a derradeira pergunta tão ouvida: Mafalda, tu "sentes" a crise? E eu vou responder: Eu não, o meu ego sim. Aliás, o meu ego está cada vez mais numa depressão exaustiva que nem se lhe aguenta. A mim não me falta nada, verdade seja dita. (e faz confusão dizer isto) Tenho, como se costuma dizer, "comida e roupa lavada"! Mas a minha vaidade anda transbordante de sede de pagar aquilo que não tem. E o meu corpinho e organismo sedento das suas futilidades das marcas. Eu até meto em causa que eu seja um pouco picuinhas, mas as coisas são diferentes! Falo de qualidade do material, nem falo do «giro» ou não. Não me venham dizer que um casaco cor de rosa da Primark (por exemplo) e um casaco cor de rosa da Mango (por exemplo) é a mesmíssima coisa. Não é. O tecido, a qualidade do tecido é diferente. Paga-se mais, mas por algo melhor e mais duradouro. Dou outro exemplo banal: eu paguei três euros por uns óculos de sol verdes ás riscas na Primark, onze euros por uns óculos amarelos a aviador na C&A e quinze euros por uns óculos brancos e rosa de massa da Claire's, tudo mais ou menos num espaço de 3 meses. Quais são os que ainda existem? Os da Claire's. Não quero fazer propaganda a porra de marca nenhuma, nem incentivar a comprarem as ditas marcas boas em vez da feirinha ou da loja baratucha (que agora até essas deixam de o ser). Mas, não compensa comprar mais caro? Os meus óculos verdes duraram duas semanas e pouco! Os rosa e branco ainda estão como novos. "Oh Mafalda, tu não tens é cuidado com as coisas." Bem visto, é verdade, não tenho lá muito. Mas trato-os todos por igual, o pouco cuidado que tenho com uns óculos tenho com os outros dois também. Portanto, caro governo, ministro da economia, vendedores e afins, vamos a baixar os preços. As minhas mãos já suam só de entrar na Desigual, ver aquela roupa que é cem por cento a minha cara, vestir uma camisola de oitenta euros e ter de a deixar por lá porque o meu cartão de crédito está fraquinho. "Talvez nem sempre, mas maioritariamente todos nós temos oitenta euros na carteira por mês." Têm? E quem o dá? Os meus papás a mim não me dão dinheiro. E mesmo que mo dessem, não posso gastar tudo numa só peça de roupa. Sou capaz de "armazenar" dinheiro. Se for preciso sei ir juntando. O problema é que eu preciso sempre de qualquer coisa - o único sitio onde não gasto dinheiro é em sustento para o meu peso - e na verdade o meu ego precisa. A minha mãe diz que eu vivo noutro planeta. Mas vejam, alimentos! Não tem um sabor diferente de marca para marca? De superfície comercial para lojinha de esquina? Eu tenho culpa de haver coisas que gosto compradas num sitio e outras noutro? Háde calhar alguns serem mais caros e as outros mais baratos. Eu cada vez como menos! Menos variedade (e por acaso isso anda-me a preocupar). Eu não como peixe, para mim peixe é intragável. Há quem não como carne e seja vegetariano. Eu não como peixe, olha, também sou gente. Não gosto de legumes, acho que devem muito ao sabor, portanto não como. Nem doces nem toda uma montra de pastelaria (tirando a preciosidade do chocolate e do mil-folhas). Em relação á carne também estou a deixar de comer algumas coisas. Sou contra a alimentação á base de animais, e isso sobe-me tanto ao cérebro que pouco a pouco vou excluindo alguma variedade da minha ementa. Mas não como verduras, portanto não posso ser vegetariana. Solução: não como. E se como pouco da tão imensa roda dos alimentos, ao menos que me deixem comer daquilo que gosto. Estou farta da crise e do seu grande escândalo nos media. Dou uma sugestão em relação a roupa: Façam uma loja do estilo Primark ou C&A/Clock House, mas com material bom e uma variedade de bom gosto estético. As pessoas gastavam em mais coisas o mesmo que gastam numa só peça numa outra loja. Em vez de comprarmos umas calças a quarenta e cinco euros compram duas e uma t-shirt, por exemplo. Isto também em relação á tecnologia. Preciso de um flash para interiores, de uma lenta mais ampla e de um tripé médio para a minha bichinha e ainda não tenho nenhum dos três. Eu não me governo com uma lente de 35-70mm e outra de macro! Tenho a mania das grandezas se calhar. O meu avô diz que um dia vou cair do cavalo. Mas eu não consigo tolerar o baixar de braços e aceitar o que este país tem que nos fazer engolir. Talvez eu me chateei para nada, porque no fim das contas andei revoltada para continuar tudo na mesma. Mas nessa altura logo se verá. Hei de ter as coisas como acho que não só eu, mas todos devíamos ter. E não será o passo do país pelo corredor da morte, epidemias financeiras ou crises mundiais que me vão tirar esta ideia da cabeça. O mundo só está assim porque as pessoas o quiseram. Sempre fomos livres, se estamos no purgatório foi por opção nossa (nós o mundo) ninguém nos obrigou a nada.
Eu nunca esperei que a manhã chegasse. Para mim, apenas a lua se punha no varão do horizonte. Era iluditório que o sol espreitasse, seria demasiada fantasia para a pele arrepiada, gretada, com varizes e rugas da velhice. Mas chegou. E mentia se não admitisse que me esquentou o sangue gélido. Já não sou menina, nem sequer esposa. Sou viuvá e mulher velha. Moro em arredores da Amareleja, a dita terra em que o sol se exprime tão forte, e eu, nunca vi o sol. Não o da minha alma. Da minha própria alma.
A questão não é pelo que se passa na vida, mas sim a intensidade com que se vive a altura.
Querido mar,
Querido mar,
Odeio mudanças, obras, qualquer tipo de situação que envolva vasculhar o passado que cada divisão da casa escorre na (in)feliz tarefa de mandar fora ou empacotar em caixas de cartão enormes. Odeio encontrar as ditas poeiras que escondi o máximo possível para não as voltar a ver. Não voltar a recordar. Já tenho demais em forma de pensamento perfurador das entranhas corporalmente vitais. Odeio. E lá pareces tu. Pedaços teus, a toda a hora. Odeio. Maldito vicio que ganhei a uns tempos para cá. Porquê guardar, escrever sobre o melhor e o pior que me rompe o quotidiano? Odeio. O meu quarto transpira-te. Não me deixa fugir, não me deixa perder o sentimento de falta que fazes. No meio da minha tonelada de roupa. Preta. A tua tshirt. Eu, mais lágrimas.